Olhei para a mulher que entrara na estação, à procura de distracção para os olhos, enquanto não chegava um comboio que parasse em Vila Franca de Xira.
Poucos segundos depois senti que conhecia aquele olhar, só não consegui arranjar-lhe um mundo.
Não sei se pela insistência do meu olhar, ou por outra coisa qualquer, ela acabou por se virar sem se esquecer de sorrir.
Enquanto procurava um nome para lhe colar ao rosto, a mulher de fato violeta e boina caminhou na minha direcção.
Quando perdi as dúvidas sobre a sua identidade, já a tinha a menos de um metro de mim, a chamar-me pelo nome e a dizer que estava quase igual, como se o relógio tivesse parado no tempo.
Ela não, estava diferente. O cabelo tinha outra tonalidade, o corpo surgia mais largo, sem no entanto perder a elegância, estava mais mulher.
Tinham passado mais de vinte anos.
Sorri-lhe, enquanto perguntava: «nunca saíste daqui?»
Olhei-a como quem olha para um palácio, ela continuava a sorrir, com um dos sorrisos mais bonitos que conhecera e respondeu-me à letra: «saí. Dei duas voltas ao mundo, até saber que te ia encontrar aqui.»
Foi ali que nos conhecemos, foi ali que nos separámos, foi ali que nos reencontrámos...
A vida é tão estranha...
Aconteceu mesmo?!
ResponderEliminarQue lindo encontro!
não, Catarina...
ResponderEliminarapeteceu-me escrever, por a vida ser tão estranha...
Luís,
ResponderEliminarQUe pena!
Conheço uma história bem mais estranha que essa... e com um final improvável mas muito feliz.
Um abraço
Ohhhh! E eu que estava pronta para ler uma estória de amor!
ResponderEliminarA propósito do seu outro post sobre os livros que pretende ler (desculpe usar este espaço) acabei de ler “Os filhos da mãe” de Rita Ferro. Não encontrei ainda “Quarto e Um quarto” dela. Nunca tinha lido nenhum livro desta autora. Diferente.. bem humorado! E comecei a ler “As mulheres de meu pai” – só que como ainda estou nas primeiras páginas estou confusa em saber quem é quem ! :)
Será a vida estranha, mesmo, Luís?
ResponderEliminarSei de uma estória quase assim...
Beijinho
A vida não é nada estranha...:)
ResponderEliminarQuase tudo pode acontecer.
Beijos, Luís M.
Pois, não aconteceu (quando escreves estes curtos e belíssimos conos, olho sempre para as etiquetas, para ver se a palavra 'ficção' lá está). Mas, por vezes, não dá vontade de que certos encontros aconteçam?!
ResponderEliminarBeijinho, Luís
Um reencontro assim vale sempre a pena, nem que seja sonhado. Mas a vida é estranha, sim.
ResponderEliminarUm belo texto, Luís.
Um abraço.
as estações podem ser os lugares onde a vida recomeça ...ou acaba.
ResponderEliminare aqui não sei se me nasce ou morre um sorriso( talvez um dia, ao passar em Vila Franca, obtenha a resposta).
... mas a resposta da mulher da boina é uma soberba declaração de amor Luís.
daria uma bela história.
"a vida é tão estranha..."
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beijos Luís
há histórias ainda mais estranhas, sim, Meg, e se têm finais felizes, ainda melhor...
ResponderEliminarainda não comecei as "mulheres de meu pai", Catarina. mas apetece-me, gosto da escrita de Águalusa...
ResponderEliminarem relação à história, podia acontecer, com menos floreados. há pessoas que é como se desaparecessen, deixamos de as ver e pronto.
é a vida, somos nós, sei lá, Maria...
ResponderEliminarquase tudo poder acontecer, não faz com que a vida deixe de ser estranha, M. Maria Maio.
ResponderEliminarpois dá, Lúcia...
ResponderEliminarentão as pessoas que consideramos especiais e que deixamos de ver...
os sonhos fazem-nos bem ao corpo e à alma, Graça...
ResponderEliminareu gosto de estações, gosto de comboios, Maré.
ResponderEliminara linha de Vila Franca de Xira foi muito importante para mim, porque fez com que retomasse o gosto pela leitura, matando o tempo da viagem entre Santa Apolónia e Vila Franca de Xira, a ler ("o pára em todas" demorava 45 minutos)...
li quase tudo de Camilo, Aquilino, Hemingway e Steinbeck, graças à biblioteca da escola onde dei aulas (era quase o único cliente...)
Aveiro, Vila Franca de Xira, às vezes Oriente e vice versa... pardidas e chegadas, até um olhar se perder definitivamente nos azullejos da estação.
ResponderEliminarentendo porque gostas...
eu também apesar de todos os paradoxos.
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e beijos
Lindo!!
ResponderEliminarazulejos lindos, os das nossas estações, Maré...
ResponderEliminarainda bem que gostaste, "Guizo".
ResponderEliminarás estações dos comboios são óptimos locais para cruzar a realidade com a ficção... gostei muito, luís. um beijo*
ResponderEliminarpois são, Alice, parte-se de viagem, mesmo sem sair do banco...
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