quinta-feira, abril 29, 2021

Abril Acabou (felizmente) com o "Destino Social" de Quase todos Nós...


É tão normal estudarmos e serem as nossas notas a destinarem o nosso futuro, o curso superior (ou não...) que escolhemos, que nem sequer conseguimos imaginar um país onde tal não é possível acontecer. Muito menos conseguimos perceber que alguém queira voltar a viver num lugar desigual, onde se alimentem as "castas", pessoas mais "iguais" que outras.

Eu só tive a verdadeira noção da existência de saudosismo do "destino social", que foi uma realidade durante a ditadura, quando contactei com um descendente de uma das famílias salazaristas (avô deputado da Assembleia Nacional e tio-avô ministro salazarista...). Percebia-se à légua as limitações culturais deste individuo, que continuava a sonhar com a "almofada" e o "empurrão" familiar... que talvez o tivesse ajudado a manter os negócios da família (uma seguradora nacionalizada após o 25 de Abril e várias fábricas desaparecidas...). Não era de todo inocente a presença da fotografia de Salazar na parede do seu escritório...

O mais curioso é que alguns "pobres" (mais de espírito que de outra coisa...), também se revêem nesse país desigual, em que os médicos e os advogados passavam os seus consultórios e escritórios para os seus descendentes, tal como os engenheiros. Nunca esqueço que uma prima afastada da minha mãe, uma vez lhe disse, pouco agradada, que nós (eu e o meu irmão) éramos "quase contranatura", por contrariarmos o destino e termos chegado à universidade, quando os nossos avós eram agricultores e analfabetos...

Claro que ela é que nunca saiu do seu "mundo pequeno". Felizmente hoje somos muitos milhares (talvez até já tenhamos passado o milhão...), aqueles a quem Abril deu a possibilidade de fintar o tal "destino social".

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


6 comentários:

  1. Só têm saudades desse tempo duas classes de pessoas. Aqueles que pertencem a famílias que "comiam do mesmo tacho" e aqueles que nunca sofreram na pele a vivência desse tempo e pelo contrário como nunca tiveram de lutar para conseguir nada na vida, a nada dão valor.
    Abraço e saúde

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    1. Sem dúvida, Elvira.

      Aqueles que "amaldiçoam" Abril, deviam olhar para esse país que existia antes de 1974...

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  2. Bom, apesar de tudo, no salazarismo ainda havia algum apoio para quem queria estudar. Eu conheço vários casos de pessoas que não pagaram propinas e tiveram bolsas de estudo. Licenciaram-se e o chamado " elevador social" funcionou para elas. É certo que eram pessoas urbanas e não da chamada província.
    Hoje em dia, com tanta democratização também há autênticas " nódoas " com mestrados e tudo!

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    1. Eram a "excepção que confirmava a regra", Maria.

      Mas as nódoas existiam ainda mais nesse tempo, em que a universidade estava reservada para as "castas"...

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  3. O problema é que algums pessoas consideram-me mais iluminadas do que a maioria, mais inteligentes e eruditas e para destacarem-se da maioria, preferem ter uma opinião diferente e criticar o 25 de Abril! Se querem viver numa didatura, vão para a China!

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    1. É isso mesmo, China ou Venezuela com eles, Micaela.

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