Ela continuava a regar as plantas que tinha na marquise, ao mesmo tempo que dizia não sentir saudades da rua. Talvez por a olhar todos os dias, por conhecer muitos dos passos da vizinhança, e claro, por sentir que por ali só aconteciam "normalidades".
Não dizia que era a dificuldade em andar que a "fechava em casa". Dificuldade que já chegara antes da pandemia. Às vezes dizia, sem perder o sorriso, que a velhice era uma chatice e um desconsolo. Mas nunca dizia que ninguém devia chegar a velho, por que ser velho queria dizer ser "vivo".
Fazia perguntas sobre pessoas, que lhe parecia terem desaparecido. Era como se tivessem ido morar para um país distante. Nunca fora muito de falar ao telefone. Sempre teve dificuldade em falar com as pessoas quando não tinha nada para dizer...
Foi então que me olhou nos olhos e disse, enquanto fazia uma festa a uma flor: «Somos tão frágeis...»
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
A nossa vida é um ciclo e dizem que somos crianças duas vezes, talvez porque o final muitas vezes é parecido com princípio, a dependência de outros! Tenho muito respeito pela velhice!
ResponderEliminarTenho respeito e amor pela velhice, Micaela.
EliminarTenho excelentes amigos que já passaram os oitenta.