Há pessoas que conseguem olhar para o futuro e ver aquilo que "ainda não existe", como se lhes fosse possível levantar uma ponta de "qualquer coisa", e ver o amanhã, e o depois de amanhã...
João Bénard da Costa foi uma dessas pessoas. Em "A Casa Encantada" (a sua crónica semanal do "Público") de 3 de Outubro de 2003, conseguiu antever a geração "Trump", com uma referência ao cinema, que tanto amou, que transcrevemos:
«Lembro-me de um filme de 1994 - "Forrest Gump" chamava-se - em que o herói (Tom Hanks) era uma espécie de atrasado mental, que só tinha uma pálida ideia dos problemas e conflitos americanos ou mundiais. O filme retratava-o como um típico produto do que se chamou a "Baby Boomer Generation", a que foi dominante entre a ascenção de Elvis e a queda de Nixon. Mas aquilo que no livro (de Winston Groom) serviu de base ao filme - uma sátira, mais ou menos verrinosa, contra essa geração - transformou-se, no filme de Zemeckis, numa apologia do "pobre de espírito", que triunfava, porque milhões de americanos se achavam iguais a ele e queriam que a América e o Mundo fossem de homens como ele.
Quando vi o filme. tive um primeiro prenúncio que aquele personagem não representava um tempo passado, mas um tempo futuro. O êxito desse elogio à estupidez deixou-me perplexo. Mais ano menos ano, não iria a nova minoria reclamar direitos e a comemoração do Dia do Estúpido?
Estúpido fui eu, porque infelizmente, essa minoria é maioria, na América ou em qualquer país.»
(Fotografia de Luís Eme - Tejo - a Lua hoje...)
É bem verdade. Assusta-me cada vez mais o futuro, não por mim que já vivi a maior parte do tempo que tinha para viver, mas pelo filho e principalmente pelas netas.
ResponderEliminarGosto da foto
Abraço e uma boa semana
Sim, o futuro não será pêra doce, Elvira...
Eliminar"Infelizmente, essa minoria é maioria, na América ou em qualquer país"
ResponderEliminarOlha que verdade!
É mesmo uma infelicidade, Severino, a estupidez promete vencer...
EliminarUma reflexão muito sábia sobre o filme Forrest Gump feita por João Bénard da Costa. Curioso, é que eu não tinha analisado o filme deste ponto de vista… Há sempre alguém que nos ajuda a pensar melhor.
ResponderEliminarUma boa semana, meu Amigo Luís.
Um abraço.
Eu não tinha ido tão longe como o João, mas senti logo que havia ali um "elogio à estupidez", num sentido positivo, quase inocente, Graça.
EliminarAntes de tudo o mais: que belíssima fotografia, Luís.
ResponderEliminarQue inveja!
O saber tarde de que deveria ter investido algum dinheiro numa máquina razoável.
Se calhar, nem assim lá chegava...
Depois registar a sagacidade do Luís no detalhe da crónica do João Bénard da Costa.
Curiosamente, essa crónica faz parte do 1º volume das «Crónicas: Imagens Proféticas e Outras» do Bénard da Costa.
Peguei no livro e a citação passou-me completamente ao lado.
Obrigado pela lembrança.
De saber certo, sei o quanto é importante visitar, diariamente, este Largo.
Mas a minha máquina não é nada de especial, Sammy (por isso é que me ofereceu este efeito da lua, sem a nitidez que tinha...).
EliminarO João Bénard da Costa, embora fosse demasiado clássico (extremamente culto...), ofereceu-nos crónicas extraordinárias.
E sim, às vezes só à décima leitura é que "agarramos" nas palavras dos bons cronistas. :)