quinta-feira, março 28, 2013

«Não sou capaz.»


A crise trouxe-lhe tudo, o desemprego, o desespero e sobretudo o sentimento cada vez mais forte de inutilidade...

O pesadelo durava há mais de um ano.

O marido também estava desempregado e ultimamente começara a pressioná-la para aceitar trabalhar num bar nocturno de alterne e de mais qualquer coisa. Disse-lhe que só custava os primeiros dias.

Ela ficou em silêncio.

Continuou à procura de trabalho, porque não queria tornar-se uma "rameira"...

Uma noite ele disse-lhe para se vestir, de uma forma leve, sem se esquecer de se pintar, porque ia começar a trabalhar no bar do Joca.

Enfiou-se no quarto e começou a chorar.

O marido entrou no quarto e tentou obrigá-la a vestir-se, dizendo que estava a ficar tarde. Ela levantou-se e disse: «não sou capaz», sem esconder as lágrimas.

Ele virou-lhe as costas e saiu, deixando a porta da rua bater com estrondo, ecoando pela escadaria do prédio.

O óleo é de Burton Silverman.

12 comentários:

  1. Muito triste que algo assim possa estar a suceder...

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  2. É uma triste realidade.

    Abraço

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  3. Há coisas de que não se é capaz, por muito que a vida nos decepcione...
    Beijos.

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  4. Onde é que fica o bar do Joca! Se calhar passa as noites e os dias vazio com estas mulheres que não conseguem.
    Boa Páscoa!

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  5. mas acontece, Gábi.

    vivemos um tempo de dilemas de toda a ordem, inclusive morais.

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  6. isso pouco importa, Carlos.

    o que é terrível é a degradação da nossa vida, a todos os niveis.

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