«Não gosto que me olhem assim.» A dona do bar disse-me isto, com as mãos na anca, a pedir desafio.
Eu fiquei sem saber o que responder, disse apenas: «assim como?»
«Com um olhar cheio de indiferença disfarçada. O fingir que estás distante, embora não te escape nada.»
Percebi que não podia continuar a fingir-me despercebido, embora fosse mais distraído do que lhe parecia. Nem valia a pena dizer que o olhar não comia pedaço, com ela não resultava. Sorri quase sem jeito, até que ela baixou a guarda: «mas não precisas de ficar incomodado, pagar a conta e ir embora. A tarde até está agradável.»
E estava...
Descobri que a mulher com mais um ano ou dois que eu, também lia pensamentos. Eram demasiados anos a lidar com clientes de todo o género...
Foi então que trouxe duas imperiais, sentou-se na minha mesa sem pedir autorização e continuou a falar, aproveitando o vazio da casa. Como ela gostava de falar... especialmente de nós, homens.
«Acho que os homens têm medo das mulheres que os desafiam, que os convidam, que tomam a iniciativa. Porque será?»
«Porque não estão habituados, normalmente as coisas acontecem ao contrário.» Disse eu, sem a querer convencer do que quer que fosse.
Enquanto acendia um cigarro, confidenciou-me, já sem a exuberância inicial: «tantos homens que fugiram de mim por eu não ter medo de os olhar nos olhos...» Sem esperar que eu respondesse, continuou: «só comecei a recusar homens quando abri esta casa. Acho que alguns até faziam apostas, a ver quem me conseguia engatar. Tantas apostas perdidas...»
Sorri, espantado pela curva da conversa. Ela também sorriu. Finalmente.
A conversa ficou como o Tejo, quase lisa. Foi possível perceber o quanto aquela mulher era genuina, quanto aquela mulher precisava de falar deste mundo dos homens...
E antes de eu pagar a despesa e me despedir, foi mais longe: «quando chegaste, sem te olhar para as mãos percebi que eras casado. Como quase todas as mulheres mal amadas, gosto de gostar dos homens errados, geralmente bem casados como tu.»
Voltei a sorrir-lhe e desejei-lhe a continuação de uma boa tarde.
Enquanto caminhava à beira rio, sabia que tinha aprendido mais um pouco sobre as mulheres, que raramente são tão decifráveis como a Laura, que continuava a fingir que conseguia ler pensamentos...
(e a senhora da foto, por acaso conhecem?)
Take inicial de um bom filme! :-)
ResponderEliminarÉ assim que se escreve take?
Será uma artista já nada jovem, quando jovem?
Dá uma diquinha...
Abraço
Aliás, já morta! :-((
ResponderEliminarNão preciso mais da dica porque como a reconheci fui à net e dei logo com a foto!
Bela imagem para ilustrar a tal mulher que lia os pensamentos...
Não digo quem é para pôr outros a pensar! :-))
Abraço
Estará para sair um novo livro de contos?
ResponderEliminarPartilho da opinião da Rosa sobre a fotografia. É do meu tempo!!!
Beijinho, Luís
É (ou era) uma senhora muito bonita. Não sei quem é e estou com muita curiosidade por saber o seu nome. Fico a aguardar... : )
ResponderEliminardiálogo curiosa. essa mulher cheira homens interessantes à distância.
ResponderEliminarps: quanto à foto desconhecia essa actriz mas meu caro amigo basta clicar em cima dela para saber de quem se trata. na próxima antes de publicares muda o nome ao ficheiro porque encontrei logo ali o nome da jean seberg escarrapaxado rsss
ou por acaso és loirinho? sorry mas foi mais forte que eu eheheh
...e a loura sou eu!:))
ResponderEliminarBeijinhos, Luís M.
Pois é… cliquei na foto e voilá... Jean Seberg... Não conhecia. Obrigada pela dica!
ResponderEliminarera uma actriz linda, Rosa...
ResponderEliminare fizeste bem, não dizer, nem clicar...
as histórias coleccionam-se sempre, mesmo sem livro na manga, Maria.
ResponderEliminare claro que a moçoila é do vosso tempo...
e afinal era só clicar, Catarina...
ResponderEliminarIvone, ficas "proibida" de "clicar", ouviste?
ResponderEliminaro jogo era adivinhar e não clicar.
(batoteira)
e não sou louro, embora hoje tenha-me cruzado com um moço louro de casaco cor de rosa, e perguntei à mãe dos meus filhos, se ela achava que aquela cor me ficava bem...
não faço a mais pequena ideia, M. Maria Maio.
ResponderEliminarmas não és mais para o ruivo?
era uma mulher gira e loura, mas sem tintas, Catarina...
ResponderEliminarEmbora não me tivesse recordado do nome ou do seu rosto, de certo já a tinha visto pelo menos num dos seus filmes. Vi o filme “Aeroporto” e pelo que li ela fez parte do elenco. Teve uma vida muito atribulada como todas as actrizes bonitas e famosas.
ResponderEliminaracredito que esta também deve ter "agrilhoado" pensamentos Luís.
ResponderEliminarapreendemos sempre mais sobre nós com a frontalidade dos outros.
até com as mulheres que pretendem "saborear" o legível pensamento dos homens.será verdade mesmo?!
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e eu que nada sei, deixo-te um beijo
acho que todos nós temos uma moeda para trocar por um pensamento, Maré...
ResponderEliminare claro que aprendemos muito com a frontalidade dos outros, as "máscaras" só confundem...
quase todas, Catarina...
ResponderEliminaré preciso ser-se muito grande, para conseguir escapar ao corrupio de personagens que se encarnam nos palcos...
:) já tinha lido este post ontem, mas estava sem cabeça para fazer comentários... és um humor só :)*
ResponderEliminartenho dias, Alice...
ResponderEliminaraliás, temos todos.
Jean Seberg com um fim de vida trágico.Contracenando algumas vezes com Jean Paul Belmondo.
ResponderEliminarMas quanto ao texto, as mulheres lêem os pensamentos, sim.
basta vê-las juntas e observar.
Os homens falam, elas basta-lhes um simples olhar trocado entre elas para se entenderem::))
xi
maria de são pedro
acredito, Maria...
ResponderEliminarembora nós também sejamos enigmáticos, de vez em quando...
Olá, Luis.
ResponderEliminarCheguei a este blogue através dum comentário n'O Cheiro da Ilha.
Fui lendo os posts, até chegar a este. Gostei do blogue, mas este foi o post que mais me prendeu. É um bom conto, tanto pela forma como o expões como pelo conteúdo.
Até breve.
boa tarde, Filoxera.
ResponderEliminaraté quando quiseres.