segunda-feira, outubro 05, 2020

Crescer com Tranquilidade e Normalidade...


Muitas vezes pensamos que todos crescemos e vivemos os mesmos problemas na infância, esquecidos de que além de sermos todos diferentes, cada família é um caso. Já para não falar da influência que os lugares têm dentro de nós...

Passei quase duas horas na conversa com uma amiga que escreve poesia, que me falou mais dela própria, que das coisas da cultura, que temos em comum. Foi uma conversa diferente de tantas outras que tivemos, porque desta vez ela decidiu focar-se, em alguns episódios da história da sua vida.

Começou por me contar o quanto as histórias misteriosas da infância a tinham marcado, negativamente. Além da religiosidade excessiva (além da ida à missa rezava-se muito em casa, onde havia uma espécie de altar com santinhos...), havia demasiadas coisas que não entravam em nenhuma conversa.

Mas o pior eram as superstições, de toda a ordem. Essas coisas de que todos nos rimos quando ouvimos falar, que metem gatos pretos, escadas, sextas-feiras, eram o seu prato do dia. Havia uma tia que até a costumava questionar se tinha entrado, aqui e ali, com o pé direito. Costumava dizer que sim, apenas para a deixar aliviada, mas não fazia ideia, qual era o seu "pé de entrada".  Também eram proibidas refeições com treze pessoas à mesa.

Nunca achou nada daquilo normal. E demorou muito tempo a libertar-se daquela quase "toxidade", que nos parece mais literária que real.

Eu que crescera sem a presença de pessoas supersticiosas à minha volta, achei tudo aquilo deliciosamente estranho. Foi quando ela me disse, com ar sério: «Que bom que foi para ti, cresceres com tranquilidade e normalidade...»

(Fotografia de Luís Eme - Sesimbra) 


2 comentários:

  1. Muito poucos (para o bem e para o mal), da nossa geração (anos 60/70), cresceram (em relacão às gerações actuais) com normalidade e tranquilidade.

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    1. Depende sempre do que entendemos por "normalidade e tranquilidade", Severino...

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