Sei o quanto é importante a cultura oral para o conhecimento, tanto como jornalista como historiador.
A ausência de documentos físicos sobre vários acontecimentos, faz com que tenhamos, obrigatoriamente, que recorrer aos testemunhos orais.
Quando li uma entrevista publicada no final do ano (na edição de 6 de Dezembro do "Ípsilon"), com o escritor jamaicano, Marlon Jones, achei-a extremamente enriquecedora, pela forma aberta como ele falou dos seus livros, dos livros dos outros e de si próprio.
Sei que não vou transcrever a parte mais interessante da entrevista. Vou sim fazer a referência que me interessa, pela sua pertinência e pela sua verdade:
«As pessoas da cultura oral, onde se enquadram os gregos que ouviram Homero, têm de saber se o contador de histórias está a mentir ou não, ir percebendo as nuances, motivações, têm de fazer o trabalho de detective enquanto estão a ouvir. O ouvinte de uma história tem muito mais trabalho para fazer do que o leitor.»
Penso exactamente como o Marlon Jones, especialmente se estiver a realizar um trabalho de investigação, no qual a aproximação com a verdade seja o aspecto mais importante da conversa. A credibilidade adquire aqui um aspecto fundamental. Além da nossa própria intuição, devemos questionar (sempre que for possível...), porque é mesmo verdade que se apanha mais depressa um "mentiroso que um coxo".
Claro que o lado mais mitológico da cultura oral, não nos levanta estas questões. O aspecto essencial é a qualidade do "contador de histórias", a sua capacidade de nos levar de viagem, de nos cativar, mesmo que esteja a contar-nos algo, que está cada vez mais distante do nosso mundo (as lendas e os milagres perderam muito espaço no nosso tempo...).
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Quem conta um conto, acrescenta um ponto - diz o povo.
ResponderEliminarNa ficção policial e na vida real os suspeitos são postos à prova por alterarem as suas versões.
Isto da cultura oral tem que se lhe diga! :)
Abraço
Claro, Rosa, um ponto, ou dois. :)
EliminarPois tem.