Ontem não escrevi nada por aqui sobre as árvores e sobre a poesia, de propósito.
Não me apeteceu deixar um poema, muito menos meter-me com a natureza, com as plantas, tão maltratadas por muitos de nós, apesar de serem essenciais à vida...
Tinha pensado em escrever sobre a minha relação com elas, por terem entrado em tempos diferentes na minha vida, por razões absolutamente naturais.
Por ser descendente de agricultores, desde muito cedo me habituei a conviver com a natureza. Excluindo os quinze dias passados na praia, eu e o meu irmão passávamos os mais de dois meses das férias grandes em Salir de Matos, na casa dos meus avós.
À distância de mais de quarenta anos, sinto que o tempo não era barreira para nada, ou seja, tínhamos tempo para tudo...
Além das mil e uma brincadeiras com amigos, visitávamos as fazendas do avó (a Ambrósia, o Arneiro, a Várzea, o Vale da Moira...), onde eu e o meu irmão éramos mais "pisadores" que ajudantes...
O avô era um mestre das coisas da natureza, estava sempre pronto a ensinar-nos e a explicar-nos o ciclo da vida das plantas. E também gostava de nos contar histórias (uma boa parte eram lendas populares que vinham de gerações). Ainda o consigo ver, ele sentado na cadeira da cozinha e nós sentados nas escadas de pedra que davam para a "casa de fora", muito atentos e em silêncio.
Da poesia não encontro um rasto... Camões deve ter sido o primeiro poeta que me foi oferecido, já na escola primária (o Bocage era espalhado de boca em boca, nas anedotas em que era sempre mais esperto que os espanhóis, franceses ou ingleses, mas nesses tempos não fazia ideia que fosse poeta...).
Na secundária conheci mais poetas. Gostava sobretudo da Sophia...
Pessoa descubro-o já no fim da adolescência. Era impossível não ficar deslumbrado com tanto talento "circense". Sim, ele era palhaço, domava leões, fazia malabarismo e também muito ilusionismo. E fazia tudo bem...
Os seja, a natureza foi-me imposta pelas raízes familiares. A poesia não, foi (e continua a ser) descoberta por mim.
Nesta imagem apareço eu e o meu irmão, disfarçados de agricultores, nos finais dos anos 1960, na Ambrósia...
Como já estive no seu outro blogue, já vi que teve uma bela tarde de poesia. De resto nestas suas lembranças há muita poesia à mistura.
ResponderEliminarQuando eu era menina, havia na quinta do Xavier do outro lado da cerca da Seca muitas figueiras e oliveiras. Sempre ouvi que era a quinta do Xavier, mas nunca lhe conheci dono e ainda hoje se mantém lá, juntinho ao rio com algumas oliveiras, o pinhal mas as figueiras desapareceram não sei porquê. Quantas vezes passamos debaixo do arame farpado para ir colher figos com que meus irmãos se deliciavam. Pena que eu não gostava.
Apaixonei-me por poesia ao ouvir clamar um poema, que nem sei de quem era. Era muito menina e só me lembro que se chamava Morena, e do qual só recordo duas quadras
Não negues confessa
que tens certa pena
Que as mais raparigas
te chamem morena
***************
Moreno era Cristo
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem Morena
E tem razão. A Poesia descobre-se
todos os dias.
Um abraço e desculpe a extensão do comentário
Voltei, porque depois de ter falado das minhas memórias fui ao google pesquisar e descobri que o poema de que só lembrava o princípio e o fim é do Guerra Junqueiro.
ResponderEliminarUm abraço
Belas recordações, amigo Luís...
ResponderEliminarnão foi tarde, foi noite, Elvira.
ResponderEliminaruma noite com gente que ama a poesia.
foi a infância, Graça...
ResponderEliminarfeliz.