Estranhei o homem que se pavoneava junto aos quadros, com lencinho ao pescoço dentro da camisa, cabelo puxado atrás com gel e um bigode fino, à "Clark Gable". Não me aproximei muito e fiquei a pensar que deveria ser galerista ou então algum agente contratado para "vender quadros".
Preferi cumprimentar e trocar algumas palavras com o Francisco, que estava sentado num canto, a ler uma revista, na vulgaridade das suas calças de ganga e camisa aos quadrados pequenos, felizmente sem ninguém por perto naquele momento.
Voltei a olhar alguns quadros e ao passar perto ouvi o "Gable" a explicar a temática e as cores do quadro, com uma desenvoltura, digna de qualquer artista plástico.
Foi quando a galerista chamou a atenção aos presentes, dizendo que se iria proceder à inauguração oficial da exposição.
Disse umas palavras de circunstância, antes de apresentar o Francisco, que com um discurso simples e minimalista, agradeceu a presença de todos os amigos e convidados, esperando que pelo menos eles se interrogassem sobre o que estava dentro dos quadros.
Entretanto olhei à minha volta e nada de "Gable", evaporara-se. Algumas pessoas próximas olhavam umas para as outras e interrogavam-se, quase com desdém: «então este é que é o artista?» Uma ainda foi mais longe, «coitadinho».
Esbocei um sorriso e lembrei-me que estava em Portugal, no país onde as pessoas parecem gostar de ser enganadas...
Preferem sempre as palavras bonitas à realidade.
O óleo é de Danian Elwes.
Portugesmente.
ResponderEliminaracho que é mundial, há sempre que queira ser o que não é, Helena.
ResponderEliminarÉ amigo, infelizmente há muita gente que escolhe o presente pelo embrulho sem se preocupar de saber o que lá está dentro.
ResponderEliminarUm abraço
pois, Elvira.
ResponderEliminaro mundo dos sonhos é já ali.
Infelizmente dá-se mais valor ao invólucro.
ResponderEliminarAbraço
nem mais, Rita.
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