quarta-feira, abril 24, 2019

O Dia que Ainda Não É...


O 24 de Abril na actualidade é sobretudo um dia de antecipações de festas por todo o País (entre nós joga-se muito na "antecipação", para ficarmos primeiro na fotografia que os outros...).

Mas há 45 anos a história era muito diferente...

Ao contrário do que por vezes se diz por aí, a preparação da Revolução foi um segredo muito bem guardado. Isso ficou a dever-se em grande parte ao facto de ter sido protagonizado por militares, que normalmente são disciplinados e têm um sentido de honra diferente do comum dos mortais. Por outro lado sabiam o que estava em risco, caso falhasse a tentativa de Golpe de Estado. Pelo que quanto menos pessoas soubessem e estivessem envolvidas melhor (especialmente para elas). 

Mesmo no dia 25 de Abril havia alguma desconfiança, pelo menos nos sectores mais politizados, pois não sabiam muito bem se o golpe era democrático ou da extrema direita (Kaúlza de Arriaga conseguia estar à direita do regime...). Foi por isso que houve quem se mantivesse na "clandestinidade" por mais alguns dias, e até meses...).

Ou seja, o dia 24 de Abril de 1974, para a maioria dos portugueses foi um dia igual aos outros. Tanto para quem ouvia as "conversas em família" como para quem conspirava contra a falsa "primavera marcelista".

A DGS continuou a perseguir e a querer prender "comunistas"... e os antifascistas continuaram a tentar antecipar os seus passos, fugindo sempre que podiam...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

4 comentários:

  1. Sammy, o paquete24/04/19, 20:18


    Caro, Luís Eme, permita que lhe diga que alguns responsáveis militares, apesar da sua disciplina, cometeram diversos deslizes que poderiam ter posto em causa a execução do 25 de Abril. Basta ler o livro do Otelo, e muitas das entrevistas em que, posteriormente, os protagonistas fizeram relato dos acontecimentos, para se ter uma ideia do que foi acontecendo.
    Depois da tentativa spinolista do 16 de Março, na desesperada tentativa de ultrapassar pela direita o MFA, não poderia existir outro contratempo e todos os cuidados eram poucos.
    Dos intervenientes não militares se poderá dizer que cumpriram escrupulosamente o silêncio. Funcionou a vertente cultural e política. Posso dizer-lhe que, quase diariamente, estava com dois desses intervenientes, Álvaro Guerra e Carlos Albino Guerreiro, ambos jornalistas do «República», e nunca lhes ouvi uma palavra sequer sobre o que estava em marcha. Sabia, como tantos outros, que andava qualquer coisa no ar, mas apenas isso, pelo que o 25 de Abril foi mesmo uma surpresa para mim, grata surpresa.

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    1. Eu sei de alguns desses deslizes, Sammy, mas de uma forma geral (com alguma sorte, como convém nestes casos...) tudo correu bem.

      Acho natural que os poucos civis que estavam de alguma forma, implicados, ainda tivessem mais cuidado (eram pessoas de extrema confiança do Movimento).

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  2. Em Angola, no dia 25 só se ouvia musica e ninguém dava notícias. Mesmo os militares sabiam o que estava a acontecer mas não diziam nada por não saberem se a revolução era ou não "abafada"
    Abraço e bom feriado.

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    1. Claro, Elvira. Eram muitos os exemplos de revoluções fracassadas, desde 1926...

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