A mulher que estava na caixa do supermercado, ao mesmo tempo que puxava do porta-moedas (ainda há pessoas antigas que usam estas pequenas carteiras...) disse, com um ar farto e cansado: «A vida é uma chatice!»
Ninguém lhe respondeu. Parece-me que as pessoas têm medo de gastar as palavras. É uma poupança incrível, por essas ruas fora...
Sai para a rua e as nuvens dançavam por cima de nós, a brincar ao "esconde esconde" com o Sol. Foi quando passou por mim um homem, cujo rosto nunca mais esqueci, provavelmente pela memória da sua quase "filosofia de rua".
Eu conto. O senhor foi apanhado a agarrar um guarda-chuva alheio à saída do café e quando lhe perguntaram, se não tinha vergonha de estar a roubar o chapéu, ele devolveu à procedência uma frase lapidar, ao mesmo tempo que voltava a colocar o guarda-chuva no mesmo sítio: «Não. Está a chover lá fora e o chapéu dava-me jeito. Feio, feio, é roubar descaradamente como o Salgado. Devia dizer-lhe para ele voltar a pôr o dinheiro que nos roubou no banco.» E saiu porta fora, sem esperar resposta.
Curiosamente, desta vez o "filósofo" trazia um chapéu de chuva na mão.
À medida que ele se afastava, fique a pensar que deve continuar a não ter medo de "gastar as palavras"...
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)
Luís, rimeiro, gosto da tua foto ;)
ResponderEliminarTambém não responderia a essa mulher... Não valia a pena porque ficaria na dela e eu na minha. Cansam-me as pessoas negativas.
O facto de outros roubarem ou fazerem outras coisas erradas, não legitimam que eu faça mal (esta é para o homem do chapéu). Ponto.
Mas o problema é que a vida é mesmo uma chatice, Isabel. Como eu compreendi a senhora. Ela falou também no sentido de irmos para velhos e ser tudo mais difícil...
EliminarO outro gajo é um cromo, um "berardo" pobre. Daqueles que se pudesse, fazia o mesmo que eles... É gente que olho sempre de lado. Nunca achei piada aos "Luíses Pachecos" desta vida.
Entro no elevador, digo bom dia e as 4 pessoas que lá estavam continuaram mudos e olharam para mim como se eu tivesse vindo de Marte...
ResponderEliminarO problema é a gataria, comeram-lhes a língua, Severino. :)
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