sexta-feira, janeiro 08, 2016

A Luta Diária pela Sobrevivência


Ontem era para escrever sobre Paris, sobre a Liberdade, sobre o jornalismo... ou seja, iria dizer meia-dúzia de lugares comuns, afastando-me do essencial: a desumanização, cada vez mais evidente, da sociedade.

Podia falar dos casos diários de violência doméstica, mas fico-me pela mãe madeirense que se suicidou, depois de ter envenenado o filho, de apenas onze anos. Depois de ler a notícia sobre este caso descobri que tudo isto aconteceu três semanas após o suicídio do seu companheiro, também por envenenamento.

Quando o caso foi motivo de conversa fiquei em silêncio. Em vez de dizer qualquer banalidade, fiquei a pensar na alteração do estado psicológico da senhora, ao ponto de a levar a fazer o que fez. E o seu quadro social não era para menos. Desempregada, doente com um cancro e depressiva, devia ter a sensação de que era cada vez mais um estorvo para todos. E provavelmente sentiu que o filho mais novo também estava a ser um "peso" para a filha e o genro, que lhe tinham dado abrigo.

Sou incapaz de a culpar do que quer que seja. Aliás, o que me preocupa mesmo é a distracção de toda a gente que vivia à sua volta...

(Óleo de Renato Gattuso)

8 comentários:

  1. Nem consigo imaginar o desespero desta mulher para chegar a este ponto.
    Estamos cada vez mais afastados uns dos outros quando em ultima instância somos todos um.
    Bjs e um feliz ano 2016

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    1. Acho que ninguém consegue, Rita.

      Cai-nos tudo em cima e não temos uma mão para agarrar...

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  2. Devia estar num desespero inenarrável. Hoje em dia, as pessoas são ilhas, isoladas nos seus problemas nas dificuldades das suas vidas. Não há pontes que lhes facultem a fuga. A maioria dos vizinhos de um mesmo prédio, nem sequer se conhece. Como se podem aperceber do sofrimento do outro?
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. É isso mesmo, Elvira.

      E como o mundo parece estar de pernas para o ar, ainda nos deixa mais insensíveis...

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  3. Infelizmente, a família não é sempre aquilo que deveria ser. Fico triste sobretudo pela morte do moço inocente, mas que vida lhe estaria destinada?
    Lindíssimo texto, Luís!

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    1. É, Cristina. A família deixou de ser o "farol" de outros tempos...

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  4. Que aperto no coração! Que sofrimento, o dessa mulher. Mau de mais!!

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    1. Deixa-nos com poucas palavras e com um aperto sim, no coração, Graça.

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