segunda-feira, dezembro 05, 2011

«Que bom voltar a sentir-me comunista.»


Perguntei por ti e disseram-me que não aparecias por ali há meses.


Fiquei no mínimo intrigado, até por aquela esplanada ser um dos teus "escritórios" favoritos.

Telefonei-te e disse que estava por ali, à tua espera.

Bonacheirão como de costume, disseste que já estavas a caminho. Pelo meio ainda explicaste que a renda do escritório era demasiado alta e resolveste alugar um mais pequenote e com uma preço mais acessível.

Apareceste dez minutos depois, com o teu estilo inconfundível de "parte pratos". Começaste logo por pedir um cigarro a um conhecido, confessando que já não compravas tabaco há mais de um mês, "vendendo" à malta a quem cravavas um "paivante" a treta de que andavas a tentar deixar de fumar.

Sempre a sorrir, disseste que estavas acampado mesmo em cima da crise, uma "puta" alemã ou francesa, que te obrigou a mudar de vida. Um pouco mais a sério lá explicaste que o teu ordenado curto de actor fora reduzido para metade, assim como o de todos os elementos da companhia. E com o "escritor" a mandar na cultura as coisas só têm tendência a piorar...

O que antes era impossível deixou de ser, até confessaste estar preparado para fazer o papel de padre ou sacristão nos "morangos com açúcar".

Eu sei que somos bons a tirar partido das coisas más, por isso nem estranhei que dissesses que uma das coisas boas destes tempos foi teres voltado a viver em "comunidade". Beber café e almoçar e jantar no teatro passou a ser natural, a malta até improvisou uma copa e uma cozinha, onde cada um pode exibir os dotes culinários. E bebedeiras, agora só em casa ou nas dos amigos.

Gostei muito da tua expressão, carregada de ironia: «que bom voltar a sentir-me comunista.»

O óleo é de Hans Leijerzapf.

4 comentários:

  1. A crise tem o condão de voltar a ser-mos autênticos e menos individualistas - daí a expressão. Burgueses nos tornámos com o dinheiro emprestado dos outros.

    Um abraço.

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  2. Cá está o que o senhor Passos quer: que empobreçamos, que emagreçamos...

    (apre que o conjuntivo é bem difícil em Português!... )

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  3. pois tem. lembramos-nos mais dos outros, quanto mais não seja por precisarmos deles, Carlos.

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  4. ele quer muita coisa, Carol.

    até vender o país a retalho.

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