Embora nunca quisesse ser menino do coro, sempre tive dificuldades em virar costas à realidade. Acho que o medo, esse gigante, também me deu uma ajuda na fuga de alguns lugares, assim como a trocar as voltas à curiosidade.
Ao passar por uma rua lisboeta, onde não passava há anos, lembrei-me de uma rapariga que me olhava do lado de dentro da janela de um rés de chão alto. O mais curioso é que não nos falávamos, embora nos olhássemos de alto a baixo e de vez em quanto fossemos capazes de trocar um sorriso.
Sabia que uns metros mais à frente deveria encontrar o parapeito que nos ajudou a soltar a língua, numa noite diferente de todas as outras. Quando passei estavas sentada e demasiado alegre (devia dizer pedrada...), deve ter sido por isso que me chamaste. Vinha do cinema e sentei-me a teu lado, a escutar a história que tinhas para me contar da tua vida. Até fiquei a saber o nome que me quiseste oferecer (Diana), que até tinha a ver contigo.
Pediste-me um cigarro e eu nem sequer tinha lume. Foi por isso que descemos o parapeito e entrámos num café nas proximidades onde bebemos uma cerveja ao balcão e compraste um maço de tabaco.
Passeámos de mão dada e prometemos coisas que não tivemos tempo de cumprir, porque nunca mais apareceste à janela (e as vezes que eu passei pela tua rua...).
Nunca percebi muito bem o que perdi ou o que ganhei.
O óleo é de Scott Waddel.
Um pequeno conto onde a ternura é grande.
ResponderEliminarLindo, Luis.
Beijos.
Ganhou-se, pelo menos, uma bonita memória partilhada. Do resto, é como tudo na vida... Nunca saberemos.
ResponderEliminar[Embora me apeteça dizer "que pena" :)]
Beijinhos, Luís
não é conto, Filoxera.
ResponderEliminaraconteceu algures em Lisboa.
nem acrescentei um ponto. :)
acho que sabemos que pertencemos a mundos diferentes, por muito que se esforcemos para fingir que não é assim, Virginia.
ResponderEliminartenho pena de não a ter ajudado, embora saiba que era uma tarefa muito dificil.