sábado, julho 09, 2011

A Tua Janela


Embora nunca quisesse ser menino do coro, sempre tive dificuldades em virar costas à realidade. Acho que o medo, esse gigante, também me deu uma ajuda na fuga de alguns lugares, assim como a trocar as voltas à curiosidade.

Ao passar por uma rua lisboeta, onde não passava há anos, lembrei-me de uma rapariga que me olhava do lado de dentro da janela de um rés de chão alto. O mais curioso é que não nos falávamos, embora nos olhássemos de alto a baixo e de vez em quanto fossemos capazes de trocar um sorriso.

Sabia que uns metros mais à frente deveria encontrar o parapeito que nos ajudou a soltar a língua, numa noite diferente de todas as outras. Quando passei estavas sentada e demasiado alegre (devia dizer pedrada...), deve ter sido por isso que me chamaste. Vinha do cinema e sentei-me a teu lado, a escutar a história que tinhas para me contar da tua vida. Até fiquei a saber o nome que me quiseste oferecer (Diana), que até tinha a ver contigo.

Pediste-me um cigarro e eu nem sequer tinha lume. Foi por isso que descemos o parapeito e entrámos num café nas proximidades onde bebemos uma cerveja ao balcão e compraste um maço de tabaco.

Passeámos de mão dada e prometemos coisas que não tivemos tempo de cumprir, porque nunca mais apareceste à janela (e as vezes que eu passei pela tua rua...).

Nunca percebi muito bem o que perdi ou o que ganhei.

O óleo é de Scott Waddel.

4 comentários:

  1. Um pequeno conto onde a ternura é grande.
    Lindo, Luis.
    Beijos.

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  2. Ganhou-se, pelo menos, uma bonita memória partilhada. Do resto, é como tudo na vida... Nunca saberemos.
    [Embora me apeteça dizer "que pena" :)]

    Beijinhos, Luís

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  3. não é conto, Filoxera.

    aconteceu algures em Lisboa.

    nem acrescentei um ponto. :)

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  4. acho que sabemos que pertencemos a mundos diferentes, por muito que se esforcemos para fingir que não é assim, Virginia.

    tenho pena de não a ter ajudado, embora saiba que era uma tarefa muito dificil.

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