sábado, setembro 25, 2010

Belarmino e o Poder do Cinema

Um dos filmes que marcaram o chamado cinema novo, foi "Belarmino", realizado por Fernando Lopes em 1964.

Se não existisse o filme a personagem Belarmino Fragoso passava ao lado da maior parte das pessoas, até por nunca ter sido uma figura exemplar da nossa sociedade.

O filme oferece-nos uma história que o eleva como "boxeur", tratando-o quase como um "fora de série", alguém que passou ao lado de uma grande carreira internacional, coisa que nunca aconteceu, pelo menos segundo os entendidos na matéria. Foi várias vezes campeão de Portugal na categoria de pesos médios nos anos cinquenta, o que acabou por o catapultar para o boxe profissional, onde nunca alcançou grandes resultados.

Segundo o mestre Ricardo Ferraz, que me ensinou o essencial sobre este desporto-espectáculo, que sublima o pior e o melhor de nós, bastava uma palavra para definir Belarmino: "escroque".

E realmente, Belarmino, como ser humano nunca foi um exemplo da virtude.

O meu amigo Zé Manel, que o conheceu pessoalmente, recorda com um sorriso nos lábios, o "pintas", o "gabarolas", ou seja, uma figura típica bairrista de uma Lisboa entretanto desaparecida. Não lhe chama mentiroso, diz que era alguém que adorava fintar a realidade, com um jeito especial para contar histórias incríveis e pedir "um santo antónio" aos amigos que encontrava na rua...

Um dos seus pontos fracos eram as mulheres, envolvendo mesmo algumas vedetas do espectáculo em histórias proibidas, embora a sua fama de mulherengo não ultrapassasse os bares de terceira categoria que frequentava, alguns dos quais trabalhou como segurança e porteiro.

Claro que o filme também pode ser analisado por outro prisma, como uma metáfora da própria sociedade, com os altos e baixos da vida, num género pouco explorado, o cinema directo.

Uma das coisas que sobressaem do filme é a fotografia, da autoria de Augusto Cabrita.

Acabei por escrever mais do que queria, afastando-me um pouco da ideia inicial do "post". Queria falar essencialmente do poder "mítico" do cinema, onde se podem criar novas histórias e oferecer novas roupagens a personagens. Onde se nota mais isso, é nas adaptações literárias. Fazem-se filmes baseados em livros, que ganham vida própria, subvertendo a ideia inicial, o que nem sempre agrada aos autores...
A escolha desta fotografia, com uma das estátuas do jardim do Museu do Chiado, deve-se à tal "imortalidade" alcançada pelo mundo das Artes, inclusive a sétima...

4 comentários:

  1. Há um exagero também nas suas palavras.

    Belarmino é uma personagem única de Lisboa, até foi poema de O'Neill.

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  2. ....para que servem as memórias?




    .
    um beijo

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  3. única? onde? em quê, João?

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  4. para quase tudo, Gabriela...

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