terça-feira, junho 09, 2015

O Descapotável Azul


«Quando vi passar lentamente pelas ruas um descapotável azul, com um homem relativamente jovem ao volante, que ia cumprimentando as pessoas com quem se cruzava, estava longe de pensar que se tratava do padre da paróquia.

Era mesmo o padre Augusto, que segundo o meu cicerone e companheiro, apenas tinha dois defeitos, para padre claro, gostar de carros e de mulheres velozes. A tese dos carros estava provada, a das mulheres limitava-se a circular nas ruas que albergavam a má língua.

Mas nem tudo eram defeitos, reconheciam-lhe a virtude de tratar toda a gente da mesma forma, sendo incapaz de cobrar dinheiro de um funeral a alguém que vivesse com dificuldades. Talvez fosse por isso que lhe perdoavam o devaneio de ter um descapotável azul. Também não gostavam muito de o ver a fumar como uma chaminé, mas eram incapazes de lhe dizer alguma coisa.

Quem não gostava dele dizia que se tratava de um padre comunista com gostos capitalistas. E até faziam futurologia, dizendo que o padre Augusto não se faria velho por ali.»

A fotografia é de autor desconhecido (com um dos meus actores preferidos, o Steve McQuenn).

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