sexta-feira, junho 19, 2015

Falsos Abandonos


«Quando entrámos num pequeno café descobri um rosto conhecido. Um escritor fora de moda estava a escrever num pequeno bloco, provavelmente a muitos quilómetros de distância daquele lugar.

Uns anos antes lera uma reportagem sobre ele que fazia manchete do seu afastamento do mundo da escrita, cansado do proteccionismo dado aos medíocres. Dizia que nunca foi do negócio, sempre foi da paixão pelas palavras. 

Embora fosse difícil, Albano ia tentar ser um homem normal na aldeia onde crescera, onde o campo quase que abraçava o mar e campo. A jornalista que assinara a prosa, escreveu que Manuel Matos matara o escritor Albano Garcia de Matos, para sempre. 

Apeteceu-me cumprimentar o escritor, mas a última coisa que queria era quebrar a magia do homem que continuava a escrever, apesar de todos os indícios contrários.»

A fotografia é de Willy Ronis.

4 comentários:

  1. Quando se nasce com o dom de criar, seja na escrita ou não, nunca se deixa de o fazer, mesmo que por desilusão com o que o rodeia, deixe de o tornar público.
    Um abraço

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    1. Em alguns casos não, Elvira.

      Conheço um bom músico que nunca mais tocou...

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  2. como eu compreendo este texto!
    um abraço
    :)

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