segunda-feira, junho 15, 2015

A Barbearia Moderna


«Precisava de cortar o cabelo e entrei na primeira barbearia que descobri, sem clientes.

O homem de bigode, que me recebeu com uma vénia, convidou-me para me sentar numa das velhas cadeiras metálicas giratórias. 

Percebi que estava demasiado sisudo para um barbeiro. Já sentado expliquei-lhe o corte de cabelo que queria, ao homem que começou a dizer mal da sua vida, dos gadelhudos de todas as idades que entravam cada vez menos na sua casa. Frisou que há três anos que não aumentava os preços e mesmo assim, cada vez tinha menos gente para cortar o cabelo. Se as coisas não melhorassem, ia ter de fechar a barbearia.

Eu limitava-me a ouvir, sem muita vontade de alimentar aquele choradinho, que era comum a todos os lugares de comércio. Pelo menos falava da crise como se falasse do tempo, sem alterar o tom de voz, como se fosse preciso dizer alguma coisa para estabelecer o diálogo com o cliente.

Embora só cortasse cabelos, ele nunca usou a palavra cabeleireiro, como se isso fosse coisa de senhoras. Minutos depois, quando ele passou o espelho pela parte de trás, fiquei satisfeito com o seu trabalho. Paguei e saí, com ar de quem voltaria um dia destes.

Já na rua descobri que não ficara a saber o nome do barbeiro. Era pouco normal isto acontecer, apenas fiquei a saber que era o dono da “Barbearia Moderna”, nome entretanto gasto pelo tempo.»

A fotografia é de Robert Doisneau.

4 comentários:

  1. Pelo menos ficou satisfeito com o corte.
    Um abraço e uma boa semana

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  2. pois é, mas essa profissão tem sido muito penalizada....

    tempos maus.

    mas se o corte ficou a teu gosto, sinal que ele ganhou um cliente.

    beijo

    :)

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    Respostas
    1. Ai estas mulheres!

      É uma ficção, Piedade. :)

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