Não sei se foi o frio, ou outra coisa qualquer, sei apenas que o Carlos estava mais sensível que o costume.
Já tinha achado estranho vê-lo ser levado de trela por um cão, nas ruas da cidade, embora percebesse que a partir de certa idade, quando se vive só, tenta-se arranjar uma companhia fixa. Todos sabemos que os animais são mais fáceis de aturar que as pessoas, é por isso que muita boa gente em vez de fazer um filho compra um cão...
Voltando ao Carlos, ele não me contou nenhuma aventura, não me falou de nenhuma das suas "mulheres" (algumas sei que são roubadas aos sonhos...), falou-me sim, dos dias pequenos, das paredes frias da sua casa e de ser um esquecido.
Antes de se ir embora disse-me: «o maior esquecimento que tive na puta da vida, foi nunca ter feito um filho, não ser pai, não ter ninguém para ficar com as minha colecções de moedas e selos...»
E virou-me as costas...
O óleo é de Teun Hocks.
Para mim o mais importante da minha vida são os meus filhos e não concebo a minha vida sem eles,desde pequena que sabia que queria ser Mãe, apesar de não ser fácil.
ResponderEliminarNo caso do Carlos não sei se foi esquecimento ou não, mas arrependeu-se de não os ter tido e estou certa que teria tido uma vida mais cheia e talvez não se sentisse tão só.
O esquecimento do Carlos é equivalente a “não vou fazer hoje o que posso fazer amanhã:... vai-se sempre adiando o amanhã... até que chega um dia em que já é arde! E o tempo não volta mesmo para trás!
ResponderEliminarHá quem tenha filhos e nem sabe onde estão!
ResponderEliminarSimplesmente abandonaram os pais, com colecções ou sem elas...
Há quem os tenha tido e que partiram antes dos pais...
E há os felizes que os têm e que podem contar com eles!
Há de tudo...
A vida é assim, uma colecção de imponderáveis que não precisamos de deixar a ninguém!
Abraço
É triste mas a realidade hoje já não é o que era!
ResponderEliminarSalvo algumas, cada vez menores, excepções, os filhos hoje não têm para os pais o mesmo conceito de família. Os pais são muitas vezes,como diz a Rosa dos Ventos, simplesmente abandonados.
É ver o que se passa nos nossos hospitais.
Tristemente.
Um abraço
Pois o meu pai, infelizmente, também coleccionou moedas e selos mas esqueceu-se de tudo o resto: deixou de ler, perdeu o sentido de orientação, passou a ter comportamentos inoportunos e mesmo perigosos e, por fim, esqueceu-se de nós. Já não nos identificava.
ResponderEliminarAlzheimer...
Um beijo.
LM
ResponderEliminarhá muitos carlos por aí...
para ti um beij
claro, Anita, agora percebe-se que o seu egoismo, o pensar apenas nele, não foi a melhor aposta...
ResponderEliminarpois não, Catarina, cada vez anda mais rápido e para a frente, sempre...
ResponderEliminarhá de tudo, Rosa.
ResponderEliminarhá coisas que dependem da nossa vontade e outras das quais não fomos ouvidos nem achados...
sim, Meg, a família hoje é outra coisa, menos importante...
ResponderEliminaré a parte que não depende de nós, Filoxera.
ResponderEliminarmas o Carlos sabe que foi ele que optou por não ter filhos...
se há, Piedade.
ResponderEliminare pelo andar da "carruagem", vão aumentar...
as moedas e os selos caiem no esquecimento
ResponderEliminarum filho NUNCA!
pois, Ivone...
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