quinta-feira, junho 24, 2010

Fora de Prazo?

Dizemos muitas vezes que não são apenas os iogurtes ou os pacotes de leite que ficam fora do prazo, nós também ficamos.

É uma daquelas frases que ficam...

É verdade que resolvemos permanecer no lado errado de muitas histórias, quando uma parte de nós sabe que já estamos a mais. isto acontece umas vezes por teimosia, outras por amor, e outras ainda por razões que a própria razão desconhece,

O futebol talvez seja a face mais visível deste "paradigma" humano. Por exemplo, não sei exactamente as razões que levaram o seleccionador francês a permanecer no lugar, mesmo com tantas contestações, internas e externas. Talvez amor, talvez teimosia, talvez a ilusão que ainda era possível fazer mais...
Nunca foi tão bom como o pintaram, nem tão mau como o pintam. O mesmo se poderá dizer de Carlos Queirós, que passou de besta a bestial em apenas um jogo (cuidado que a besta pode não estar muito longe...).

No associativismo e na política passa-se o mesmo, embora com nuances diferentes. No associativismo as pessoas são obrigadas a permanecer como dirigentes, por não aparecer ninguém para as substituir. Na política passa-se o contrário, há sempre candidatos à sucessão, só que há algo no exercício do poder (acho que se sentem donos de quase tudo, até das pessoas...), que faz com que os governantes raramente saiam no "timing" certo.

Deixo para o fim a família, onde também surgem as mesmas dúvidas e as mesmas certezas. Sim, todos conhecemos casamentos fora de prazo, que apenas resistem por existirem filhos ainda menores, por teimosia, ou ainda por dependência económica.

Claro que é um erro enorme sermos comparados a objectos de consumo. Nunca nos devemos esquecer que nós, seres humanos, temos a capacidade de nos regenerarmos, de conseguir reconstruir algo sólido a partir de cacos. há milhentos exemplos do que acabo de dizer por aí.

Entre muitas coisas, somos esperança, sonho e ilusão. É por isso que não temos muito a ver com iogurtes, leite ou maionese (embora devamos continuar a ter cuidado com os prazos e as datas...), apesar das muitas comparações, nem sempre felizes...
A fotografia é do inesquecível, Robert Doisneau.

8 comentários:

  1. Colocando-me numa perspectiva mais lata das relações de poderes das sociedades actuais com uma cultura estonteantemente consumista, claro, absolutamente de desperdício. Em todas as instâncias, em todos os campos sociais (desde da economia às áreas culturais) o lema é um apelo à criatividade, à inovação, à competição, como isso subitamente fosse uma grande falha, em veemente falta, tornou-se premente incutir esta determinação. Paradoxalmente ficamos, de um momento para o outro, presos num mórbido angustiante apanágio da necessidade estranha pela inovação.
    Ao longo da história do Homem foi o que nós estivemos sempre a fazer, por isso, verdadeiramente, tenho dificuldade em perceber a inteireza desta apologia arrebatada pela, agora, inusitada necessidade da inovação pela inovação. Há nisto um grande esvaziamento propositado, porque a inovação sempre iria acontecer como outrora, não vejo um fundamento claro para este propósito.
    No fundo decorre daqui uma lúcida estratégia, quem não conseguir ser diferente e inovar será excluído de beneficiar do que o progresso pode trazer de melhor, contudo poderá sempre sustentar um progresso para quem tem a determinação do poder para seu próprio benefício. Aqui temos de novo a moral (uma moral traiçoeira e cínica) a proteger este desvario.

    Para melhor entender esta abordagem faço referência a uma obra notável, ausente no devir da moda e da idiossincrasia intelectual: A vida Fragmentada – Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, de Zygmunt Bauman.

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  2. E o Sonho comanda a Vida...
    Mas à medida que a idade avança a energia para sonhar vai enfraquecendo!

    Abraço

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  3. o problema é que nos restam poucas coisas para nos agarrarmos e sairmos deste "fosso" onde nos colocaram. a "inovação" acaba por ser utilizada quase como uma palavra que está na moda.

    quando na realidade inovar, sempre fez parte da nossa essência, "Canto".

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  4. a energia e o próprio mundo que nos cerca, que de animador tem tão pouco, Rosa...

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  5. não deixas de ter razão ao apresentar o caricato destas analogias.
    conheço-as em algumas vertentes e por muito paradoxal que seja, não é o ser humano que estará fora de prazo, mas está descontextualizado da sua consciencia do agir.


    o que não se deve esquecer é que sempre é possível _ "o caos gerar a mais deslunbrante flor"., haja o impulso do sonho, que é tão primitivo como o impulso do olhar.

    beijos Luís.

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  6. Rosa, será isso conformismo?
    Não me conformo com esse conformismo!!! : )
    Sonhar é uma das poucas coisas que ainda se faz livremente e sem encargos financeiros. Concretizá-los já é outra coisa, portanto, devemos pôr em prática os mais viáveis de forma a termos tempo de viver a vida na sua plenitude... antes que seja tarde.

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  7. é isso mesmo, Maré: «o caus é capaz de gerar a mais deslumbrante flor.»

    somos tão complicados...

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  8. nós somos muito conformistas, Catarina, mesmo.

    isso explica as coisas que aturamos dos nossos políticos, desde a ditadura até a este tempo de crises, permanentes...

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