quarta-feira, junho 23, 2010

Caixas de Ressonância

É provável que a Cultura como a entendemos seja sempre um "mundo de minorias", por exigir um conhecimento, uma sensibilidade e um sentido critico aprofundado, mesmo quando parece estar na moda.

Moda que é muitas vezes aproveitada pelos "fingidores", que gostam de dar um ar de erudição e acabam por escorregar na própria ignorância, trocando o violino pelo piano de Chopin.

O que realmente conta neste meio são os que gostam da Arte pela Arte. Alguns são tão generosos que conseguem passar as lado das muitas vaidades que circulam pelos salões, cafés ou galerias, com um sorriso nos lábios. Outros nem por isso, sentem-se quase "enxotados" pelas "estrelas" de trazer por casa, incapazes de perceber que a vaidadezinha os cega e ridiculariza. E quando a sua qualidade é diminuta piora as coisas e faz com que repitam dezenas de vezes os mesmos poemas, os mesmos quadros e as mesmas histórias, ainda que em palcos diferentes.

Alguns vão mais longe e fazem comparações perfeitamente ilusórias e idiotas, como o senhor que diz declamar melhor que o João Villaret ou o pintor "naif" que afirma ter melhor traço que o Júlio Pomar. Claro que nós temos culpa destas situações, pois ouvimos estas asneiras e raramente temos coragem de lhes estragar a festa, dizendo para se enxergarem, mesmo que o façamos apenas por uma questão de educação ou por pertencermos ao mesmo círculo de amigos.
O que ainda não consegui perceber é se esta gente tem noção da figura que faz, se aquilo é apenas um número ou se se acham mesmo muito bons. E nem sei o que é melhor para os seus egos tão salientes, a realidade ou a ficção.

O factor mais negativo é que estes autênticos "cromos" culturais vão afastando pessoas realmente interessadas pelas coisas da cultura, mas sem paciência para ouvir "caixas de ressonância"...

O óleo é de Matisse.

6 comentários:

  1. Há pessoas que estão cheias de si mesmas. Mas também não temos coragem para os desmentir! Seria uma grande falta nossa. Não conhecia este óleo de Matisse.

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  2. às vezes escrevo coisas menos generalistas, quase que utilizo isto como "diário", Catarina.

    é que vejo e ouço tanto disparate, que às vezes deixo-os sair desta forma.

    mas continuo na dúvida, será que estas pessoas lá em casa só têm espelhos mentirosos?

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  3. Revejo-me no olhar atento e aberto que aqui expressa

    Concordo perfeitamente quando se refere que temos alguma culpa na participação destas situações.
    Quando questiono estas práticas vejo-a em termos de uma certa moral, no seu uso mais geral e vigente, que considero como “uma moral traiçoeira e cínica” que todos nós praticamos “ingenuamente”, há também quem “sabiamente” a usa conscientemente dissimilada numa falsa inconsciência, claro ardil de tirar proveito de uma moral subtilmente escorregadia. E nós convivemos regularmente bem com esta praxe moral.

    Não tenho nenhuma aversão particular aos valores morais, reconheço a sua importância, o claro e necessário contributo para o amplo espaço de construção social e cultural. Contudo, a convicção, não deve inibir o olhar crítico ou impor reverencia ao uso imperfeito e duvidoso de princípios que utilizamos na partilha no valor da moral. Por isso repugna-me que valores de amizade, de tolerância, de cidadania, de bem sejam, por uns (por vezes por muitos) apropriados como pretexto de encobrir poderes pessoais ou de grupos, para acalentar idiossincrasias estereotipadas, vezes sem conta, muito em moda e muito apreciado na sociedade de consumo. O berrantíssimo pedantismo do culto pela personalidade, o diferente pelo diferente... é o verdadeiro caminho para efectivamente deixar de o ser claramente diferente, ou seja uniformiza-se o diferente. Como poderá o “diferente” ser diferente? Posso ainda considerar o que muito poderá acontecer é a proliferação do diferente até à diferença absoluta.

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  4. claro que temos culpa, "Canto".

    muitas vezes apenas para não tornarmos alguns sonhos pesadelos...

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  5. li o teu texto com a maior lucidez
    apesar do cansaço e também não pude furtar-me ao comentário do "Canto", mas não sei que dizer.
    o conhecimento que tenho do mundo cultural e dos seus bastidores é quase nulo. também não importa. creio ser natural que a "simpatia" esteja mais próxima dos que nos são mais próximos.
    o que não entendo são essas questões de egos elevados, e tantas vezes sem qualquer consistência. mas a vaidade, é um pecado humano.
    e como disse Sócrates, (o outro) se o homem fosse apenas escravo da sua consciência, outros galos cantariam, digo eu!!!

    beijos Luís
    acho que foi

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  6. sim, Maré, a vaidade é um pecado terrível, que transporta atrás de si tanta coisa, até o ridiculo...

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