Desde pequeno que oiço a expressão popular, «deitar pérolas a porcos», que utilizamos vezes sem conta, quase sempre pelos piores motivos...
Penso que a nossa prática de vida no quotidiano nunca se ficou tanto pela teoria como na actualidade. Talvez seja um dos reflexos visíveis de sermos governados há mais de três décadas por demagógicos, quer a nível local quer a nível nacional, gente que passa a vida a prometer o que não cumpre, porque sabem que "promessas não pagam dívidas".
E realmente tudo tem limites...
Perguntam (e muito bem), «o que é que este agora quer?». Nada de especial, talvez apenas procurar compreender, em conjunto, o porquê da ausência (cada vez mais notória) das pessoas nas salas de teatro, exposições ou lançamentos de livros. Provavelmente estão cansadas de Cultura. Digo cansadas porque há várias maneiras de "matar" a cultura, se uma delas é fazer de conta que não existe, outra é banalizá-la, vulgarizá-la.
Ontem houve duas apresentações do projecto local "Bookcrossing", simplificado nas escolas de Almada, com um mais simples, "Levar, Ler e Libertar", coordenado por uma grupo de professoras bibliotecárias dos agrupamentos das escolas D. António Costa e Cmdt. Conceição e Silva. Realizaram-se à tarde e à noite, cada uma delas com menos de duas dezenas de participantes.
É a crise? Sim, mas eu diria outra, quase existencial.
E pensar que esta é uma das melhores ideias que surgiram nos últimos anos, para valorizar o livro como companheiro de aventuras e também como mensageiro de tantos conhecimentos, atrás do sonho (que já é real, felizmente...) de transformar o mundo numa biblioteca. Sim, através do "Bookcrossing", podemos encontrar um livro num banco de jardim, de autocarro ou cacilheiro, ou até numa mesa de café, apenas à procura de um amigo, de alguém que lhe ache graça, que o leia e o volte a libertar depois, onde quiser...
É mais que louvável a vontade das professoras, Ana, Carla, Dina, Margarida e Sara (com o apoio do Município de Almada), em passar para a cidade a sua boa experiência escolar, com esta maneira de valorizar o livro, dando-lhe quase pernas para andar por aí à procura de leitores.
Nota-se que as pessoas estão cansadas de quase tudo, até de viver, quanto mais de ler, de olhar a arte ou assistir a um espectáculo cheio de "metáforas" desta vida...
Mesmo assim, se encontrarem um livro por aí, à procura de leitores, tratem-no como ele merece, com muito carinho. E libertem-no, dêem-lhe a possibilidade de ser lido e relido, em Almada ou qualquer parte do mundo...
Houve uma frase, neste texto, que me tocou muito "...estão cansadas de quase tudo, até de viver".
ResponderEliminarÉ realmente isso e só assim se compreende a indiferença e o enfado com que vão vivendo o seu dia a diazinho.
Quanto ao bookcrossing é um dos projectos que sempre acolhi e com carinho. Já libertei alguns. Infelizmente nunca encontrei nenhum mas dou-me por feliz pelos livros a 1 euro que há dois anos encontrei numa feira junto ao Lago do Bourget nos Alpes. Nomes como Morin, Roth, Georges Sand, Durrell e tantos outros. Comprei 15 fui lendo e libertando alguns; destes lembro-me em particular porque não me libertei deles.
O de Morin é fantástico Venices. Uma "trouvaille" como diriam os franceses.
E falas isso nos dias de hoje e morando a sul do Porto, eu sentia essa fuga à cultura já há anos no Porto.
ResponderEliminarVi um projeto interessante uma vez, não me lembro onde: uma pessoa qualquer deixava um livro em um banco - um lugar qualquer público - e era com a intenção de que qualquer pessoa pegasse nele, o levasse consigo e o lesse e após lê-lo fizesse o mesmo. Uma ótima idéia.
Beijos, Luis
Tens razão Luís. A cultura está cada vez mais posta de lado.
ResponderEliminarOlha, eu gostava de encontrar um livro por aí...
Um abraço, amigo.
todos nós ,directa ou indirectamente ,agentes culturais ,procuramos - às vezes dando tantas voltas à imaginação - criar novos atractivos para "vencer" a crise .louvável essa iniciativa das minhas colegas de Almada .nós ,por exemplo ,na Casa Museu João de Deus ,em S. Bartolomeu de Messines ,Silves/Algarve ,tencionamos ,na semana de 23 a 30 deste mês ,levar a cabo uma "feira de troca de livros" em que trazes um e levas dois...... vamos ver se a ideia resulta!!!!!! ( depois conto........ )
ResponderEliminar.
um beijo
apologista de que os livros devem conhecer muitas mãos, quando um dia (já há uns tempos) vi a ideia na sic, achei-a brilhante. é desta, pensei.nunca mais ouvi sobre os resultados, mas acredito que é um excelente projecto.
ResponderEliminarnão se pode desistir.
apesar do cansaço, apesar da desilusão de existir dentro de tanta desistencia.
____
beijos Luís
Acho o bookcrossing uma ideia extraordinária.
ResponderEliminarInfelizmente não ponho muita fé na sua expansão cá neste cantinho onde o jeito é mais para deitar a mão do que para "libertar"...
Beijinho, Luis.
assisto há bastante tempo a uma crise profunda: a de valores. vive_se uma alteração do que é saber_se estar_se ser_se procurar_se viver_se. no consumismo sublimam_se sentimentos nas compras no hiper ou no passeio domingueiro dos shoppings. perdeu_se a vontade de comunicar falar_se escrever_se sentir_se.
ResponderEliminartenho pena!
é a cOltora que temos
e estamos mesmo, Helena.
ResponderEliminaré uma excelente iniciativa, acredito nela.
é, sem qualquer dúvida, uma benção para o livro que adora ser mexido e lido, Cris...
ResponderEliminarserá cada vez mais uma forte possibilidade, Graça...
ResponderEliminarexcelente iniciativa a vossa, Gabriela.
ResponderEliminargosto de tudo o que seja para valorizar a leitura e os livros, esses grandes amigos.
é brilhante mesmo, e penso que ajudará a valorizar o livro, Maré, mesmo com a ameaça "e-book"...
ResponderEliminarapesar dessas coisas pequeninas nossas, acredito que irá vingar, Ana, irá fazer ler quem perdeu o hábito ou não tem o hábito de comprar livros.
ResponderEliminaralguns desaparecerão, mas a maioria sobreviverá...
pois é, Ivone, mas agora as coisas irão mesmo mudar, forçosamente...
ResponderEliminar