Estou a ler "A Louca da Casa" de Rosa Montero, jornalista e escritora. E se vos estou a contar esta quase banalidade, é porque estou a gostar bastante de o ler.
Vou mais longe, é um daqueles livros que todos aqueles que gostam de escrever devem ler, especialmente os que ambicionam chegar ao romance.
Estava a falar com os botões inexistentes da minha camisa quando pensei que devia ter lido este livro há uns vinte anos... ou seja, quando ele ainda não tinha sido escrito (a primeira edição é de 2003). Normalmente acontece-nos mais o contrário. Quem gosta de ler livros sente muitas vezes que leu alguns livros antes do tempo, quando ainda não possuía a capacidade de se deliciar com alguma escrita mais "codificada", dos escritores com "alma de alpinistas", que escrevem como se subissem e descessem montanhas, daquelas onde o perigo está constantemente à espreita e o ar que se respira está longe de ser abundante.
A Rosa não só consegue entrar dentro dela, como explica de uma forma compreensível - o que nem sempre é fácil de fazer... - a "luta que é escrever"...
Não sou de sublinhar livros. Se fosse, este livro ficava com muitos riscos. E concordo quase sempre com ela. Gostei bastante da forma como definiu o romance (11º capítulo):
«A realidade é sempre assim: paradoxal, incompleta, desastrada. Por isso o género literário que prefiro é o romance, que é o que melhor se molda à matéria fracturada da vida. A poesia aspira à perfeição; o ensaio, à exactidão; o drama, à ordem estrutural. O romance é o único território literário onde reina a mesma imprecisão e desmesura que na existência humana. É um género sujo, híbrido, alvoroçado. Escrever romances é uma profissão que carece de glamour, somos os operários da literatura e temos de colocar tijolo após tijolo, sujar as mãos e rebentar as costas no esforço de erguer uma humilde parede de palavras que, na pior das hipóteses, de desmorona logo a seguir.»
«A realidade é sempre assim: paradoxal, incompleta, desastrada. Por isso o género literário que prefiro é o romance, que é o que melhor se molda à matéria fracturada da vida. A poesia aspira à perfeição; o ensaio, à exactidão; o drama, à ordem estrutural. O romance é o único território literário onde reina a mesma imprecisão e desmesura que na existência humana. É um género sujo, híbrido, alvoroçado. Escrever romances é uma profissão que carece de glamour, somos os operários da literatura e temos de colocar tijolo após tijolo, sujar as mãos e rebentar as costas no esforço de erguer uma humilde parede de palavras que, na pior das hipóteses, de desmorona logo a seguir.»
Sei que esta "definição" é capaz de "ofender" alguns escritores de mãos finas, mas eu sou operário da mesma "obra" da Rosa...
Com tudo isto, já escrevi mais do que pensava escrever... E esqueci o que aparentemente é mais importante...
"A Louca da Casa" é uma narrativa autobiográfica, sem a pretensão normal deste género literário, de contar a sua vida toda, para ficar para a posterioridade, É mais um desabafo, uma viagem percorrida "dentro de nós", com memórias, fantasias, curiosidades e boas sugestões de leitura.
(Fotografia de Luís Eme)
Luís, parece-me que essa definição é abonatória, já que os operários de quem se fala têm de mexer na sujidade, que a vida não é limpa e ainda bem. (Não gosto do asséptico, a não ser no bloco operatório :))
ResponderEliminarSim, Isabel. É mais próxima da realidade, porque se inventa para recriar, sem pensar no que pode acontecer.
Eliminar(O Geninho foi esquecido como tantos outros bons poetas, não quis fazer uma biografia, mas só um esboço)