quarta-feira, junho 08, 2016

O Vicio de Escrever e o Negócio da Escrita


Quem tenha uma visão "tecnocrata" do mundo, não percebe que alguém escreva apenas porque gosta, porque não concebe que se façam coisas sem se pensar em "cifrões", em ganhar dinheiro (dinheiro que se veja, nada dos tostões da literatura...).

Claro que não é nada que me preocupe. Nós somos o que somos (lá me estou a repetir...). Sei que há mais coisas que apenas o gostar. Às vezes penso que é uma maluquice, como a mania que tenho de falar sozinho (embora agora seja uma coisa quase vulgar, por causa dos telemóveis...). Outras vezes penso que é quase uma vicio como "tirar retratos" ao que no parece giro (eu sei que as fotografias têm a mania de fugir da realidade, mas isso faz parte do "jogo"...), é apanhar um papel a jeito e deixar umas palavras sobre o que aconteceu ou simplesmente sobre o que apareceu na cabeça. Claro que a maior parte destes papeis acabam no lixo (sei que me estou outra vez a repetir, mas o blogue também serve para isso, para escrever mais do mesmo...), porque mudamos de ideias mais rapidamente do que pensamos. Ou seja, escrever é muitas coisas, e também é a possibilidade de se poder ganhar um dinheirito extra (às vezes dá para uma viagens e para a ajuda das férias).

Mas se contasse isso aos tais homens do dinheiro, ainda me olhavam com mais espanto. a pensar que o país não evolui porque há demasiada gente a perder tempo com "tostões", com coisas que não servem para nada...

E agora vou passar a um exemplo concreto.

Aqui já há uns tempos, um conhecido, desempregado (deve ter ouvido a história do João Ricardo Pedro...), abeirou-se de mim e perguntou-me como é que funcionava o "negócio dos livros", a pensar que eu devia ganhar uma "pipa de massa", mesmo como "escritor da III divisão... Lá lhe estraguei o "sonho" de encontrar a "galinha dos ovos de ouro" através da escrita. Disse-lhe que só o Rodrigues dos Santos e mais meia dúzia de escritores é que ganhavam dinheiro com os livros. E muitos deles graças às traduções para outros países, como é o caso de Lobo Antunes.

A proliferação de editoras que vendem a ideia de que escrever um livro e ganhar dinheiro, é a coisa mais natural do mundo, deve ter influência no número de publicações diárias e nas pessoas que pensam que se pode ganhar dinheiro através da escrita. Embora na maior parte dos casos estes negócios se revelem ruinosos para os autores, que se ficam quase sempre pelo sonho de assistir ao feliz nascimento de um livro com o seu nome na capa.

Ou seja, eu penso que há mais gente que escreve para não perder dinheiro, que o contrário.

Se me perguntarem se gostava de vender muitos livros e ter muitos leitores, claro que digo que sim. Mas isso é outra coisa...

(Fotografia de Luís Eme)

14 comentários:

  1. como te entendo Luís.
    quem ganha dinheiro com a escrita, principalmente no nosso País, não são (regra geral) os verdadeiros escritores.
    eu não me importava de ganhar dinheiro com isso, só para poder ficar todo o dia a escrever :)

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    1. Mas depois não tinhas onde buscar a inspiração, Laura. :)

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  2. [escrever me
    salva diariamente]


    abç

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  3. Mas não ganhar dinheiro com a escrita é dos livros!
    Como é dos livros que os verdadeiros artistas só ganham valor com a morte. :)

    Conselho sentido: mantém-te vivo muito tempo, mesmo que a escrita só te dê para tostões.

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    1. Isso era mais no antigamente, Carla.

      Agora é tudo mais fugaz.

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  4. Penso que muita gente, escreve pelo prazer da escrita, não a pensar enriquecer com a escrita. Enriquecer a escrever, só se for a preencher boletins do Euro milhões.
    Abraço

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    1. A maioria sim, mas há sempre quem só "veja dinheiro" em tudo o que faz, Elvira.

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  5. como eu entendi muito bem este delicioso texto, além de ser realista.
    um bom feriado!
    beijinhos
    :9

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  6. Luís, antes de dar a minha opinião vou dizer o que já fiz a nível de livros e como fiz.
    Tenho dois. Ambos edição de autor. Preço fixado por baixo, apenas nos mínimos para recuperar algum dinheiro.
    Gostava de ir ao terceiro, sem qualquer componente de negócio. Como um amigo de setenta e tal anos sempre fez com os seus livros: edita, convida os amigos para jantar, oferece-lhes o livro, assim como às pessoas que manifestarem interesse. Nunca vendeu, nem quer.

    Dizes que gostavas de vender muitos livros e de ter muitos leitores.
    Claro que entendo e que me parece normal, mas para mim isso não é expressivo.
    Eu é que não sou normal porque, sem qualquer ponta de exagero, o meu gozo dos livros, da escrita, termina quando envio o trabalho para a tipografia, quando escrevo uma carta (sim, faço disso), quando publico no blogue. Tanto assim é que tiveram que insistir comigo para fazer sessão de lançamento, que até correu bem.
    Há em mim algo estranho, talvez um certo pudor, alguma contenção, associado ao 'negócio' das minhas palavras.

    E gosto muito da foto. :)

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    1. E agora fiquei curioso, Isabel.

      São de poesia?

      (temos de trocar livros...)

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    2. Luís, não são de poesia.
      (Embora possam ter algo a que vocês designam por poesia!)

      O primeiro foi em 2010 e sou co-autora. Participei com um conto / crónica. Foi um 'projecto corporativo' muito interessante porque não sabíamos uns dos outros (alguns nem nos conhecíamos) e nem o propósito do convite com apenas duas exigências. Tudo bem explicado no prefácio, que depois lerás.

      O segundo foi em 2014, numa edição a solo. Anda pelo registo dos textos intimistas e mais de reflexão, ao estilo do que agora sucede no blogue de vez em quando. Depois explico mais ao pormenor o propósito, organização...

      Tenho gosto em oferecer-tos. Diz-me para onde queres que envie. Podes fazê-lo para isabelvcpires@gmail.com
      Há um tempo tentei enviar-te um mail por causa de uma exposição ou coisa do género e apareceu-me uma coisa daquelas "eu não sou um robot" e não consegui entender-me. :)
      Aviso que talvez não consiga enviar já, já... Coisas da corrente de ar frio desta época. :))

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    3. Daqui a pouco envio-te um e-mail, Isabel.

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