segunda-feira, março 28, 2016

Os Teatros e os Actores Principais da Justiça


Gostava que os juízes fossem todos mais parecidos uns com os outros.

Claro que não quero que tenham todos cabeleira loura ou pesem apenas sessenta quilos. Quero sim que tenham o mesmo peso e a mesma medida da justiça.

Podia falar dos nossos casos mais mediáticos ou do que nos chega diariamente dos "brasis"... onde alguns senhores dão cotoveladas, aqui e ali, só para aparecerem no jornais ou na televisão.

Mas não, fico-me apenas por dois casos: pela senhora que tratou os pais da criança de doze anos (que quase pareceu que era ela que estava a ser julgada...) de forma diferente, ele por senhor doutor e a mãe pelo nome próprio e por "querida", entre outras coisas... e claro, ainda por outra senhora (o facto de terem sido senhoras nestes casos é apenas uma coincidência...), que a páginas tantas disse sobre o caso que julgara: «Todos reconhecem ao apresentador características que reflectem atitudes atribuídas ao sexo feminino, tal como a sua forma de se expressar... para além de que o apresentador usa roupas coloridas próprias do universo feminino e apresenta um tipo de programas também eles ligados às mulheres.» Não, não estou a falar de José Castelo Branco, mas sim de Manuel Luís Goucha (que nunca vi de saia, vestido ou sapatos de tacão alto na televisão...), que em 2009 foi vitima de uma brincadeira de mau gosto do programa televisivo, "Cinco para a Meia Noite", em que perguntavam qual era a melhor apresentadora de televisão e cuja resposta certa era, Manuel Luís Goucha.

Ele não gostou e como as pessoas da "gracinha" não se retrataram ou pediram desculpa seguiu com o caso para os tribunais. Eu na altura senti logo que tinha existido um "abuso". Sem me querer armar em "Diácomo Remédios", penso que o humor é outra coisa, não é bem isto.

E embora não seja fã do apresentador, nem veja normalmente os seus programas nem o canal para onde trabalha, acho que ele tem toda a razão em se sentir indignado com o arquivamento do processo e, especialmente, com a leitura da sentença. As suas preferências sexuais são públicas, mas não vejo que ele tenha as tais características que reflectem atitudes atribuídas ao feminino. Em relação ao colorido das roupas que usa - pelo menos aos meus olhos -, fazem parte da sua imagem de marca televisiva, tal como acontece com tantos outros colegas de profissão.

Não gosto nada, mas mesmo nada, destes "justiceiros" (nestes dois casos foram "justiceiras"...) que se acham no direito de fazer julgamentos no mínimo preconceituosos, que acabam sempre por "ferir" a lei.

(Óleo de René Magritte)

16 comentários:

  1. E os preconceitos continuam...
    Um abraço, Luís.

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    1. Fazem parte da essência de muitos de nós, Graça...

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  2. Luís, já lá vão uns anos que em pleno julgamento um advogado teve o desplante de me perguntar se eu não tinha medido o perigo por me deslocar a certa hora na via pública. Respondi-lhe com duas perguntas: "O senhor faria essa pergunta a um homem? Não acha que está a discriminar-me?" Disse-me que não tinha mais nada a questionar. Ganhei o processo. Não por isso, obviamente.

    E os exemplos que referiste, infelizmente, existem a pontapé. E há uma desigualdade tremenda, pois, o apresentador tem meios para tentar a sua defesa e sabe como lá chegar, agora os outros?

    Só não entendi estas tuas observações: "As suas preferências sexuais são públicas, mas não vejo que ele tenha as tais características que reflectem atitudes atribuídas ao feminino. Em relação ao colorido das roupas que usa - pelo menos aos meus olhos -, fazem parte da sua imagem de marca televisiva, tal como acontece com tantos outros colegas de profissão."
    E se as preferências sexuais dele não fossem públicas, como o resto que referiste? Aliás, o facto de as pessoas tornarem essas informações públicas, para mim, não adianta nem atrasa. Não lhes atribuo mais ou menos valor por isso.

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    1. Vamos lá às minhas observações, Isabel: é que embora ele assuma a sua homossexualidade, não deixa de ser homem. Pelo menos eu olho-o como tal, mesmo que vista um casaco cor de rosa e umas calças vermelhas.

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    2. Luís, queres então dizer que a forma como se apresenta não deveria ter dado aso à 'confusão' do "Cinco para a Meia Noite"?
      (Desculpa voltar a questionar, mas não entendi bem.)

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    3. Não só a forma como se apresenta como a forma de estar, Isabel.

      Não queria utilizar o termo, mas é a melhor forma de te explicar: não vejo o Goucha como uma "maricona", tipo Castelo Branco. Olho para ele como um homem.

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  3. As pessoas são preconceituosas e manifestam os seus preconceitos nestas alturas. Nem os juízes deviam emitir juízos de valor nem os médicos (alguns o fazem), olha nem ninguém! :)

    Beijinhos

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    1. Mas os juízes ainda têm mais responsabilidade, Glória.

      Até por a lei teoricamente ser igual para todos.

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  4. A Justiça não deveria estar acima dos juízos de valor?

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    1. Ela acima de todas as coisas, Carla.

      Mas não é por acaso que existe uma justiça para ricos e outra para pobres.

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  5. A nossa justiça está cheia de casos em que juízes julgam casos iguais de maneira diferente. Quando estou em casa vejo várias vezes um programa que fala de crimes, e são muitas as vezes que eles citam casos iguais com sentenças diferentes.
    Um abraço

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    1. E não acontece apenas por os juízes serem pessoas diferentes, Elvira...

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  6. No 1º caso também não me pareceu humor, mas será crime? Não acompanhei bem o ocorrido, mas tenho a ideia que todos pediram desculpa, mas o ofendido só aceitou a desculpa de uns.
    No 2º caso, não estava lá, o que sei é:
    Mesmo na audiência, a posição mais frágil muitas vezes é a do arguido porque ele é que está a ser julgado e pode ser condenado - isto para não deixar de reconhecer que outras vezes a posição do ofendido poderá carecer de protecção e cuidado;
    - As pessoas mentem, e mentem muito - pode acontecer numa mesma sessão A jurar por exemplo que o carro era branco e B jurar que era preto - não tendo estado lá como descobrir a verdade? Penso que uma das formas é como inquirimos as testemunhas, como a ofendida, com essa proximidade ou colocando em causa o que diz, procurar as incoerências ou contradições.
    Imaginemos que alguém que nos é próximo é acusado de um crime que não cometeu e que sabemos que uma testemunha em tribunal está a mentir, como é que o juiz vai saber isso? Poderá ser pela forma como inquire a testemunha, por a confrontar com perguntas de que não estaria à espera, e como está atento à forma como ela responde.

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    1. Eu não falei em crime, Gábi, mas sim na postura dos juízes, muito diferente de comarca para comarca, de uma forma inexplicável e que não honra de forma nenhuma a justiça.

      Continuo a pensar que o papel dos juízes é julgar factos e não dar palpites ou tomar o partido de uma das partes.

      Estes dois exemplos são dois em muitos...

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    2. A questão é,
      no 1º caso - os juízes têm de fundamentar as decisões, talvez não o tenha feito da melhor forma, mas quisesse de alguma forma delinear a fronteira entre um sentido de humor infeliz e um crime
      - no 2º caso, será que estava a dar palpites ou a tentar descobrir a verdade?
      Como é que conseguimos que alguém que está a responder-nos nos diga a verdade? Como chegar aos factos para os julgar? Basta assistir a algumas audiências para nos apercebermos de que as pessoas mentem (embora uma colega no Alentejo me tenha dito que no Alentejo não mentem como no resto do país ainda não pude confirmar) Uma das formas poderá ser essa, surpreender a testemunha com o inesperado, ver como responde a perguntas de que não está à espera.
      Não sei se foi este o caso, quando li/ouvi a notícia sobre a actuação da juíza no 2º caso também não me pareceu compreensível, mas eu não estava lá. O que estou a dizer é apenas isso, que o que às vezes é interpretado como "dar palpites", "tomar partido de uma das partes" pode ser uma estratégia, para conseguirmos descobrir o que realmente se passou - chegar aos factos - e isso para mim é muito importante para se conseguir realizar a justiça.

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  7. Gábi, eu penso que no segundo caso a única subjectividade é a fronteira do humor. Claro que não deve ter existido vontade de "humilhar" ou "achincalhar", mas apenas de "ajabardinar".

    O que me faz espécie é existirem comportamentos tão dispares entre juizes, parece que andaram em escolas diferentes e leram livros diferentes.

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