terça-feira, março 22, 2016

A Substituição do Nosso Olhar...

Já devo ter escrito qualquer coisa sobre a evidência da "massificação" da fotografia, ter revolucionado completamente o nosso olhar.

Fico muitas vezes com a sensação de que vamos aos lugares para os fotografar e não para os olhar.

Talvez seja por isso que muitas vezes tento disciplinar-me, dizer aos meus olhos e aos meus dedos, que estou ali para olhar e não para fotografar. Mas é uma tarefa difícil...

Não sei se vimos pior ou melhor as coisas. Sei apenas que as olhamos de maneira diferente.

É também por isso que gosto dos museus que nos proíbem de tirar retratos. Os museus pedem um olhar mais atento, e também uma atmosfera sem os "cliques" das máquinas, apenas com vozes que se fazem ouvir quase em sussurro.

Claro que também se mistura nesta "febre de imagens" a natural "feira de vaidades", um sinal destes tempos. Esta fotografia foi tirada no domingo de manhã, em que me apeteceu ir a Lisboa ver a Sophia, no seu miradouro da Graça. Quando vinha de regresso no cacilheiro para a minha margem, escutei e senti a alegria de uma "atleta" que participara na meia-maratona, por já ter colocado a sua aventura atlética e fotográfica no "facebook"...

(Fotografia de Luís Eme)

8 comentários:

  1. O blogger anda outra vez a atrasar a actualização das postagens, não fosse o feedly e não saberia que tinhas postado.

    Olha, penso muito nisso, nessa sede de fotografar o que os olhos nem registam. O certo é que os momentos mais marcantes da minha vida estão apenas inscritos na minha memória porque não houve fotos para ninguém.

    É bom e mau -- bom para esquecer mais depressa, mau porque se esquece mais depressa.

    Gostei da foto. ;)

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    1. O mundo está sempre a mudar, Carla.

      Não é só por esta "massificação" ser um grande negócio para as marcas de máquinas fotográficas digitais.:)

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  2. Luís, penso que o meu gosto pela fotografia e a dedicação mais apurada desde que adquiri uma máquina nova, tem-me ajudado a treinar o olhar. Talvez porque tenha uma relação um bocado atípica com as fotos.
    Não me interessa nada fotografar o que é importante para os catálogos de turismo (para isso compro um bom livro da cidade ou do país onde esteja) e raramente capto fotos de mim durante as viagens porque não aprecio, não me dá para isso.
    O que me interessa na fotografia é aquele detalhe em que os meus olhos repararam, o ângulo giro pelo qual estou a olhar a cidade, o que me parece acrescentar informação ao que é vulgarmente divulgado. E sem pressas.
    Sei que tenho algumas manias, como por exemplo, fotografar o mar durante a navegação em alto mar, tirar fotos de baixo para cima (edifícios, árvores...), captar pernas, pés, livros, janelas e copos com bebidas...
    Outra coisa estranha: tenho poucas fotos expostas em casa e nenhuma nas divisões onde passo mais tempo. Destas fotos, nenhuma é da minha neta, que até é a menina que mais amo e já tem quatro anos.

    E olha que bela chapa captaste!

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    1. Isabel, como se costuma dizer "cada maluco tem a sua mania". :)

      Também tento fugir do óbvio, mas nem sempre se consegue.

      Eu tenho "pancada" por janelas, portas, candeeiros e bancos...

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  3. Na minha modesta opinião e sem me alongar em grandes dissertações, creio que a fotografia não substitui o olhar, Luís.
    Perpetua-o, prolonga-o, para a posteridade e para além do tempo e da memória...

    Essa, com que nos presenteou, será sempre o prolongamento do seu olhar...
    E que belo olhar!!

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    1. Claro que não substitui, mas tenta, Janita. :)

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  4. No outro dia um dos blogs que sigo com frequência, partilhou a informação de um museu, penso que na Holanda, que proíbe a máquina fotográfica e incentiva as pessoas a desenharem o que observam. parece que fornece material de desenho. A ideia era simples e genial :) pois obriga a um olhar muito mais atento :)

    beijinho Luís

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