domingo, novembro 01, 2015

Operário entre Burgueses no Dia de Santos


Sim, continuo a pertencer ao meio operário (embora não se perceba muito bem o que é isso nos nossos dias). Nunca tive dúvidas, seja pelas minhas origens, seja por me sentir como "peixe na água" ao lado os meus amigos marxistas de Almada (mesmo que alguns deles não saibam muito bem o que isso é, mas as suas palavras e o que sentem, diz tudo...). Ao contrário do que acontecia na minha cidade natal, pequeno-burguesa, onde quase toda a gente queria parecer mais do que era...

Olho para este presente cheio de nuvens e não esqueço as palavras de um sobrinho-neto de um ministro de Salazar (no fim do "reinado" de Sócrates...), que fez um desenho com palavras do que aí vinha. Inocentemente não quis acreditar. Ele, mesmo sabendo que eu era um "perigoso comunista", capaz de "comer criancinhas", não teve qualquer problema em explicar, que finalmente as famílias que tinham ajudado a construir Portugal nos últimos duzentos anos, iam voltar ao poder e fazer do nosso país o que fora adiado em 1974.

Não só não acreditei como não lhe dei conversa, até por já termos tido um "desaguisado", por entendermos a história de maneiras diferentes. Ele poderia ter um quadro do Salazar na parede e achá-lo um "santo protector", que isso não ia mudar nada sobre o que pensava daquele "paizinho" de tanta gente, que continua a não passar de um "filho da puta".

O que é certo é que apesar do fim dos Espírito Santo, o "reino", que tem como "testas de ferro", Portas e Passos, conseguiu fazer o impensável, em apenas quatro anos, devolvendo o pouco poder que ainda existe às famílias do costume (que deviam odiar o Ricardo Salgado por ter conseguido fazer tantas sombras nos últimos trinta anos...).  

Mas o pior ainda está para vir (se continuarmos adormecidos...). Sedentos de poder, vão usar ainda mais a mentira para voltarem a ter uma maioria absoluta. Já devem estar mais que preparados para "minar" todas as ruas que podem ir dar a um acordo político entre o PS, PCP e BE.

E eu continuo sem perceber o que "falhou" na minha educação, pois continuo a querer ser operário e nunca burguês...

A fotografia é de Bert Hardy (sim, podia ser eu, sem medo da chuva ao lado do meu Pai  - que bom ensinares-me a gostar tanto da liberdade - e com o olhar na minha Mãe).

2 comentários:

  1. Dizer que o texto é bonito é não dizer nada embora eu pense que apesar de tudo o é.
    Dizer que estou absolutamente de acordo consigo, também é pouco. Daí que acrescente um pouco daquilo que penso. O obscurantismo com que Salazar cobriu o país foi enorme. A maioria dos hoje idosos, no 25 de Abril, achava-se demasiado cansado, e sem bases necessárias para prever o que poderia acontecer no futuro, não cuidou de incutir no espírito dos filhos, o que foi o País durante o estado novo. Preocupou-se apenas com a parte material. Queriam que os filhos tivessem uma melhor vida, e que nada lhes faltasse materialmente. É humano, não tem nada de mal. Mas não chega. Já ouvi muita gente na faixa dos 30/40 anos dizer, que o que o país para se endireitar, era o Salazar. Penso que na nossa ignorância criamos os monstros que devoram o país. E estamos velhos e cansados para os combater.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. É verdade, Elvira.

      E é tão triste continuarmos a querer navegar na mais estúpida ignorância, como se não fosse possível vivermos num mundo mais justo...

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