sexta-feira, outubro 01, 2010

Uma Rameira Diferente (II)

«Durante largos meses não voltámos a falar da mulher misteriosa, que o avô visitara num dos bordeis da cidade.


Estava longe de ter esquecido a nossa conversa. Por vezes, quando pegava num livro, era perseguido por pensamentos estranhos. Sentia vontade de recuar no tempo, de visitar aquele lugar, de conhecer aquela mulher. Ficavam sempre no ar várias questões: como seria ela, além de culta e agradável? Porque venderia o corpo? Porque gostava de livros?

O mais estranho foi nunca ter sentido qualquer repulsa ou pena da avó, por ser traída por uma mulher da vida. Não sei se pela cumplicidade que me ligava ao avô, se por ter achado aquela aventura tão pitoresca.

Pensei várias vezes em puxar o assunto quando nos encontrávamos apenas os dois. Mas era tão difícil arranjar um pretexto ocasional...

Estava a ler, "Por Quem os Sinos Dobram" - um dos melhores romances de Hemingway -, quando o avô me perguntou se estava a gostar do livro. Disse-lhe que sim. Ele sentou-se e confidenciou-me que tinha oferecido um exemplar da obra à sua amiga.»

O óleo é de Peter Samuelson.

10 comentários:

  1. Sempre gostei das cumplicidades entre avós e netos...

    Beijinho, Luís.

    ResponderEliminar
  2. Sabes ao ler-te lembrei-me do Diário das minhas putas tristes e pensei: A dor da avó e a dor da puta que emprega ao trabalho sempre algo de pessoal e que no fim a única coisa de ganho é o dinheiro com que comprará a próxima refeição........ E o avô perdido entre o amor pela mulher e a paixão pela paixão comprada de uma qualquer mulher não isenta de sentires.
    Três pessoas três formas de sentir...... mas sempre sentires sejam eles mais ou menos dolorosos.

    ResponderEliminar
  3. Continuo a ler com muito interesse.

    ResponderEliminar
  4. cumplicidqade desse avô na descoberta da neta...
    avós e netos... eu tenho 5! e este fim de semana todos cá em casa a dormir e tudo... revezo-me pelas camas!
    beijinhos

    ResponderEliminar
  5. gostei ainda mais, agora, luís... um beijinho grande.

    ResponderEliminar
  6. eu também, é recoreenete nas minhas histórias, Maria...

    ResponderEliminar
  7. sim, são sempre sentires, Ana Luar.

    mas a avó neste caso nem precisou de saber (ou fingiu)...

    ResponderEliminar
  8. isso pede continuação, Catarina.

    está bem.

    ResponderEliminar
  9. e deves ser uma avó daquelas, Gaivota...

    ResponderEliminar
  10. isso aumenta a minha "responsabilidade", Alice...

    ResponderEliminar