terça-feira, outubro 27, 2009

Há Trabalhos e Trabalhos...

Às vezes penso que há pessoas com o qual não vale a pena gastar uma palavra que seja de "latim". Mas depois reconsidero (talvez por ter a sensação de que todas as ideias podem ser aproveitadas para a literatura...), vale quase sempre a pena trocarmos ideias, mesmo que os nossos companheiros de conversa sejam capazes de dizer aquilo que para nós é o maior dos disparates...

Aquele senhor que apenas conhecia de vista resolveu sentar-se "abusivamente" na nossa mesa, com o argumento que o café estava cheio (e estava...). Não demorou muito tempo a meter-se na conversa e a tecer desconsiderações sobre quem escrevia. Começou logo por insultar o Saramago, depois foi o Cristiano Ronaldo, dizendo que ambos podiam ser espanhóis à vontade, que não faziam falta nenhuma a Portugal.
Entre outras coisas ridículas que foi dizendo, enquanto nós olhávamos uns para os outros, com um sorriso de admiração pela lata do homem que só nos conhecia de vista. Um dos meus companheiros de mesa ainda lhe disse que o que ele pensava não interessava nada, pois ambos nasceram em Portugal e gostavam de ser portugueses. O que ele foi dizer, apareceu logo a Ibéria de Saramago e a República da Madeira do Jardim, naquela conversa sem ponta por pegar.
Mas para o fim viria a parte melhor: «Eu sei que os senhores também escrevem, mas isso não é profissão. Arte não é trabalho, para ninguém.» E não voltámos a sair dali.
Para o homem o trabalho não era coisa que se gostasse de fazer, as coisas que se gosta de fazer são diversões...
Foi mais longe ainda: para ele mesmo as profissões de juiz, médico, advogado, engenheiro, eram trabalho, não eram feitas com gosto.
Ainda argumentámos, mas percebemos que não adiantava e foi um alívio quando o homem se despediu e saiu pela porta fora.
Mas nem tudo se perdeu. Antes de sairmos, quando íamos para pagar a despesa, descobrimos que tínhamos recebido um "prémio", o "anti-saramago e ronaldo" tinha pago os cafés...
E eu ganhei um "post"(resumido, que a conversa foi bem mais longa)...
As conversas de café são sempre uma "Terapia", dai a escolha de Magritte...

10 comentários:

  1. O homem é um nhurro, apesar de vos ter pago os cafés...

    Beijinho, Luís

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  2. Luís, ora aqui está o que eu considero um bom post a partir da vida. Parabéns!

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  3. Olhe que não deixou de ser interessante as questões do homem sobre arte e trabalho. Quanto às outras "tretas" é o mundo a falar.

    Um dia quando for ao "Repuxo", não me sento na vossa mesa.

    Um abraço

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  4. pois, claro que não Luís!

    e "rebuscando" a lógica do "nada se perde tudo se transforma" __(lá estou eu, abusivamente, a recorrer à velha sabedoria popular), imagina a conversa esganada sem que houvesse um contraponto a ditar o prolongamento da mesma, assente em pontos de vista diferentes...

    e olha que essa tomada de posição de atirar mais uns lusos para os castelhanos, não será tão unilateral. já a ouvi algumas vezes de há uns tempos(anos) para cá...

    bem vistas as coisas, opiniões, cada um defende as suas.

    _______

    um beijo para ti e mais outro pela escolha, perfeita, de Magritte

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  5. Faltaria a mim uma imensa paciência para aturar o homenzinho... há muito, mas muito tempo atrás, mandei um: "ainda bem que voz de burro não chega ao céu" e a criatura ficou alguns segundos matutando sobre o meu comentário... não sou muito paciente com pessoas assim. :)


    Beijinhos

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  6. e é daqueles que gosta de ter razão, Maria, o que complica ainda mais as coisas...

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  7. a vida são estes pedaços mesmo, Helena...

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  8. interessantes, Carlos? depende do ponto de vista...

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  9. sim, não houve lugar para "contrapontos", Maré.

    percebemos que não adiantava muito...

    sim, há por ai muitos nacionalismos bacocos.

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  10. tem dias, Cris, a paciência.

    acho que em alguns dias "cinzentos", também era capaz de me levantar e pôr-me a milhas...

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