quinta-feira, junho 01, 2017

Os Esquecimentos sem Inocência...

Embora os tempos pareçam fartos, graças ao optimismo exagerado do Presidente da República (campeão de tantas coisas banais para um chefe de Estado, embrulhadas em sorrisos, beijos, "selfies", etc) e dos governantes, que abraçam todos os turistas, especialmente os que compram "vistos dourados", a vida dos portugueses continua a ser outra coisa...

Ontem estive com um amigo das escritas (quase todas, do jornalismo à poesia...), que desancou no maldito capitalismo que tanto lhe inferniza a "vidinha", sem se esquecer de apontar a dedo dois ou três amigos, que deixaram de lhe atender o telefone, quando ele mais precisava. Já conseguiu equilibrar novamente as coisas, mas voltou mais uma vez para casa dos pais. E com o preço das rendas na Capital, não sabe quando poderá voltar a ter um espaço só para ele em Lisboa...

Deu-me exemplos da tal meia-dúzia de falsos amigos que lhe pediam colaborações para jornais e revistas, que o riscaram da lista de colaboradores, sem qualquer explicação ou desentendimento. Foi esquecido e pronto. O pior de tudo foi isto acontecer quando mais precisava.

Eu escutei-o pacientemente e em silêncio. Porque nestas alturas não há nada que possamos dizer ou fazer, que mude o que se sente. Limitei-me a dizer o que todos já sabemos, não é por acaso que dizem que este é um "mundo-cão"... 

Apenas lhe dei um exemplo. Durante meia-dúzia de anos colaborei numa revista, número a número, sem nunca receber qualquer dinheiro. Fazia-o essencialmente para que o projecto não acabasse. Quando decidiram fazer um número especial, convidaram várias "sumidades", e eu acabei, naturalmente, esquecido...

Embora ele seja mais novo que eu, sabe bem demais que este mundo está cheio de gente mal agradecida, capaz de nos encher de sorrisos prometedores, mas que nunca se esquece de trazer de casa uma "faca de cozinha" escondida na meia...

(Fotografia de Luís Eme)

8 comentários:

  1. Neste mundo atual, só de interesses, apenas se lembram de nós quando lhes fazemos falta.
    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É mesmo, Elvira. Tanta gente pequenina à nossa volta...

      Eliminar
  2. Luís, acho que já falei aqui uma vez sobre as decepções e creio que o assunto estava relacionado com o que trazes aqui... Por causa delas, das eventuais decepções, habituei-me a cultivar uma certa indiferença em relação ao que tenho de fazer em contexto de obrigações (procuro fazer bem, mas sem lá deixar a alma, que é coisa que me faz falta). No resto, amizades e assim, cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, para início de ligações de amizade e isso. Só ao fim de um certo tempo, começo a confiar. Normalmente é assim, ou melhor, passou a ser assim. Mas eu sou das pessoas que tenho poucas pessoas e não tenho problemas em dizê-lo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É a realidade, Isabel.

      Gente que liga cada vez menos a valores que fazem toda a diferença, gente sem carácter e qualquer ética...

      Eliminar
  3. O dinheiro extinguiu a "beleza" das pessoas; a crueldade deste sistema ultra liberal despiu-as de todas as boas características deixando de, para elas, haver regras, só esperam recompensas em detrimento de tudo o mais.

    É assustador como toda esta gente seria um excelente modelo para a pintura de Edward Hopper.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade, Severino.

      A Europa e o cavaquismo destruíram coisas essenciais no nosso dia a dia, o dinheiro passou a estar à frente de quase tudo...

      Eliminar
  4. realidade dura e crua.
    esta foto ainda está melhor do que a do poste seguinte.
    beijinhos
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um país refém do dinheiro e de múltiplos interesses, Piedade...

      Eliminar