terça-feira, junho 14, 2016

Uma Outra Existência, um Outro Eu...

Nunca se alimentou tanto a ilusão - não me apetece chamar-lhe mentira - como nestes tempos povoados de animação social (mesmo que seja só virtual...). Ou seja, nunca foi tão fácil viver outras vidas, inventarmos personagens. É como se o cinema tivesse descido da tela e passasse a fazer parte do nosso dia a dia, com um guião só nosso.

A culpa não é da proliferação de imagens, nestes tempos em que se fotografa e filma quase tudo, é mais da confusão social (e mental...) que se gerou ao tornarmos mais importante a apresentação de uma fotografia com um prato de lagosta ou  de qualquer destino exótico (mesmo que não passe do tal filme...), que da aldeia simples onde crescemos. Às vezes penso que voltaram a existir "testes" como os da adolescência, que nos poderiam dar acesso ao grupo dos "mais" de qualquer coisa.

Eu sei que a mentira parece ser muito melhor que a verdade (tantas vezes...), pelo menos quando de gordos passamos a elegantes e os nossos vulgares olhos castanhos passam a ter a tonalidade azul ou verde. Só que todos os dias temos de enfrentar o espelho, esse maldito, que nos diz que aquela fotografia que importámos da Estónia ou da Noruega, não passa de mais um engano. Claro que é só mais uma invenção, mas é a pior de todas, é aquela que nos levar levar a partir espelhos...

O mais ingrato de tudo isto, é que este não é o "mundo de aparências" de Sócrates versus Platão, é mais o do político-estudante na Cidade Luz...

Curiosamente não vejo muita gente a dizer: «Tirem-me deste filme!»

(Óleo de Raymond Parker)

2 comentários:

  1. Texto difícil de comentar, amigo. Sou muito terra a terra, não conheço muita gente, sou o mais transparente possível. Acredito que haja muita gente como descreve, que vivem fora da realidade, mas sinceramente até agora ainda não me cruzei com ninguém assim.
    Gosto imenso deste quadro. Não sei o que representa, mas há nele qualquer coisa que me atraiu o olhar e mexeu comigo.
    Abraço

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    1. Elvira, os meios existentes na actualidade são uma tentação e acabam por aguçar o engenho dos "milhentos" artistas...

      Mas o problema maior é sermos um país pobre, só uma pequena minoria é que pode usufruir de uma vida paradisíaca... E então sonha-se...

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