segunda-feira, abril 28, 2025

Um dia estranho que deixou mais uma vez a descoberto a nossa (grande) vulnerabilidade...


Não queria falar do abanar de asas da borboletita espanhola, com força suficiente para parar dois países, ao mesmo tempo que dava espaço a todo o tipo de conjecturas, mas...

Felizmente, enquanto o mundo já andava demasiado preocupado com o que poderia estar a acontecer, eu andava ocupado a arrumar coisas e a pensar que se tratara de uma avaria local, mesmo que durasse mais que os cinco minutos normais. Sabia que estávamos mal habituados. Nos últimos anos  raramente faltava a "luz", e quando ela desaparecia, voltava quase sem nos dar tempo para acender uma velinha.

Passava das treze horas quando me sentei no nosso espaço reservado do "Olivença" e o Carlos me contou que havia numa série de países europeus sem electricidade. Percebi que já existiam primeiro várias "teorias " à solta, e não foi por acaso que o primeiro nome a vir a baila foi o de Putin, um dos bandidos mais "encartados" do Planeta...

Recebi um telefonema que me dava conta das "faltas de comparência" dos meus companheiros de tertúlia gastronómica. Se há coisa que detesto é tomar uma refeição sozinho num restaurante, mas não me podia ir embora, até pela amizade com o Carlos. 

E lá almocei o "bacalhau com grão", quase a seco, sem a falta das palavras e dos sorrisos do Chico, do Carlos III e do Tomás...

Já em casa, fui sentindo o vazio de estar a "viver" sem televisão e internet. E claro, há muito tempo que não subia tantas vezes as escadas até ao quarto andar. 

Precisava de um rádio e de pilhas para voltar a estar no mundo". Encontrei-os...

Por ter tudo "eléctrico" em casa, até o fogão, fui a mercearia comprar carvão. Falavam no mínimo de seis horas para repor a normalidade, pelo que os grelhados eram a única ementa possível para o jantar. Foi na loja local que descobri um país em alvoroço, com as pessoas a quererem esgotar a água existente assim como as conservas (estava gente à minha frente com mais de uma dúzia de latas de atum e outras tantas de feijão...). Como só precisava do carvão, consegui pagar e ir embora, "furando a fila", mas fiquei ligeiramente alarmado com a já normal prevalência do "eu" e do "salve-se quem puder", com a ânsia daquela gente em levar para casa coisas a mais, à espera da "guerra", sem pararem para pensar que o mundo tem mais pessoas...

O rádio não ia dizendo muitas coisas, mas pelo menos serviu para desmontar uma série de "teorias da conspiração", colocadas a circular pelos mentirosos do costume...

Ao jantar conversámos bastante (há sempre coisa boas nestas "aventuras"...), na nossa varanda, bem iluminada graças às engenhocas do meu filho. Ao ponto de parecermos a única casa com gerador na nossa rua (uma bela mentira)...

Graças à vista larga do nosso "miradouro" pelo Mar da Palha, fomos assistindo ao regresso da energia pelas terras que nos rodeavam. O coração de Lisboa foi o primeiro a acordar, depois foi a Ponte Vasco da Gama, o Montijo, Palmela (mais longinqua...), Seixal e quase às vinte e três horas e meia, foi a vez de Almada regressar à "normalidade"...

Ao fim de um dia estranho, a única coisa em que pensei, foi na nossa pequenez, no quanto somos vulneráveis. Não queria voltar a pensar no que pode acontecer com um simples abanar de asas de uma borboleta em qualquer lugar afastado, mas...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


2 comentários:

  1. E eu, ingénua e ignorante, pensava que éramos independentes em relação à energia elétrica, com tanta eólica, painéis solares, barragens, centrais elétricas.
    Agora, depois de casa roubada, trancas na porta.

    Abraço

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    1. E somos, Rosa.

      Mas depois mistura-se o negócio e...

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