sábado, novembro 11, 2023

Até a invejarmos somos pequeninos...


Aos fins de semana costumamos beber café a meio caminho da avenida e depois vamos até ao Largo de Cacilhas e uma ou outra vez descemos mesmo pelo Ginjal, se o tempo estiver convidativo.

É nestes lugares que descobrimos o melhor e o pior de nós, nas palavras e nos olhares dos outros. Ficamos cada vez mais em silêncio, porque parece ser mais fácil "desconversar" que "conversar" com desconhecidos. Limitámo-nos a olhar um para o outro, com cara de caso, embora soubéssemos que era este o nosso Portugal, da cidade mais populosa à aldeia mais curta de gente.

Um casal jovem emigrante com dois filhos (um ainda de carrinho de bebé) levantara-se e foi-se embora. Provavelmente oriundos das índias, com aspecto modesto (tanto um como o outro calçavam chinelos, apesar de já ser Outono). Foi quando uma mulher que já ultrapassara a meia-idade começou a barafustar com a companheira de mesa - depois de termos percebido pela conversa anterior que lhe iam aumentar a renda e andava à procura de casa -  dizendo que a esta gente dão tudo e a nós não dão nada. Maldizendo o país e os políticos corruptos, claro.

Depois de nos levantarmos, falámos da inveja, essa instituição nacional. Da forma como até a invejarmos somos pequeninos. Somos capaz de invejar alguém que vive como nós (ou pior...), apenas porque tem uma camisa ou um vestido bonito, ao mesmo tempo que fazemos vénias a quem enriquece diariamente a "roubar-nos" o pão...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


5 comentários:

  1. Provavelmente é assim em todos os países que recebem migrantes e onde a pobreza alastra.

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas nós não invejamos apenas os migrantes, invejamos o nosso vizinho de lado, quando troca de carro ou veste um casaco novo, Rosa.

      Eliminar
  2. A inveja é tempo perdido.
    Muitas palavras e poucas açőes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Penso exatamente o mesmo que tu, Catarina.

      Tenho muitos defeitos, esse, felizmente, não.

      Eliminar
  3. Temos realmente um país cheio de invejosos. Diz-se que não é por acaso que a última palavra dos Lusíadas é "inveja".
    Tudo de bom.
    Uma boa semana.
    Um abraço.

    ResponderEliminar