É nestes lugares que descobrimos o melhor e o pior de nós, nas palavras e nos olhares dos outros. Ficamos cada vez mais em silêncio, porque parece ser mais fácil "desconversar" que "conversar" com desconhecidos. Limitámo-nos a olhar um para o outro, com cara de caso, embora soubéssemos que era este o nosso Portugal, da cidade mais populosa à aldeia mais curta de gente.
Um casal jovem emigrante com dois filhos (um ainda de carrinho de bebé) levantara-se e foi-se embora. Provavelmente oriundos das índias, com aspecto modesto (tanto um como o outro calçavam chinelos, apesar de já ser Outono). Foi quando uma mulher que já ultrapassara a meia-idade começou a barafustar com a companheira de mesa - depois de termos percebido pela conversa anterior que lhe iam aumentar a renda e andava à procura de casa - dizendo que a esta gente dão tudo e a nós não dão nada. Maldizendo o país e os políticos corruptos, claro.
Depois de nos levantarmos, falámos da inveja, essa instituição nacional. Da forma como até a invejarmos somos pequeninos. Somos capaz de invejar alguém que vive como nós (ou pior...), apenas porque tem uma camisa ou um vestido bonito, ao mesmo tempo que fazemos vénias a quem enriquece diariamente a "roubar-nos" o pão...
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)
Provavelmente é assim em todos os países que recebem migrantes e onde a pobreza alastra.
ResponderEliminarAbraço
Mas nós não invejamos apenas os migrantes, invejamos o nosso vizinho de lado, quando troca de carro ou veste um casaco novo, Rosa.
EliminarA inveja é tempo perdido.
ResponderEliminarMuitas palavras e poucas açőes.
Penso exatamente o mesmo que tu, Catarina.
EliminarTenho muitos defeitos, esse, felizmente, não.
Temos realmente um país cheio de invejosos. Diz-se que não é por acaso que a última palavra dos Lusíadas é "inveja".
ResponderEliminarTudo de bom.
Uma boa semana.
Um abraço.