quinta-feira, maio 18, 2017

Coisas da Poesia e dos Poetas do Nosso Contentamento...

Podíamos estar a tarde toda a falar de poesia e de poetas, não apenas do que escrevem, mas também do que nos fazem sentir. Embora um dos momentos mais pitorescos da conversa tenha acontecido quando contámos pequenos nadas, curiosos, daqueles que fazem sorrir...

Eu também tinha um, passado com o Zé Gomes Ferreira, no qual tive a ousadia de confundir a sua arte, na primeira vez que nos cruzámos ao vivo, num Primeiro de Maio das culturas. Quando me perguntaram se conhecia o homem com ar feliz, de cabeleira branca farta e quase despenteada, que passou por nós e me piscou o olho, fiquei a pensar. E a primeira pessoas em quem pensei foi no Leonard Bernstein, que era visita assídua na televisão (quando o nosso mundo era só RTP e a preto e branco, a "caixa mágica" oferecia-nos música da boa, mesmo que nessa altura não morresse de amores pela arte sinfónica, ao contrário do pai, que escutava deliciado, o homem que não conseguia estar quieto e também usava uma excêntrica cabeleira branca...). Foi por isso que disse que ele não me era estranho, perguntando de seguida se era maestro.

Não, era poeta, e dos militantes, disse-me a Teresa com um sorriso rasgado. E eu nessa altura até já tinha lido "O Mundo dos Outros" e até tinha gostado daquela linguagem de quem finge que anda por aí distraído, mas vê tudo.

Ainda nos encontrámos uma ou outra vez, a última foi no Chiado, talvez em 1981 ou 82. Apeteceu-me mesmo dizer-lhe um «olá Poeta», mas senti que ele estava completamente absorvido por algo que se passava a metros (ou quilómetros...) dali. Já nesse tempo evitava ser inconveniente.

Talvez o grande Zé Gomes estivesse naquele preciso momento dentro de um poema...

(Fotografia de autor desconhecido, com Zé Gomes Ferreira bem acompanhado, na festa do Avante de 1977, com Mário Viegas, outro grande amante da poesia e dos poetas e com a actriz Fernanda Lapa, digo eu...)

2 comentários:

  1. Maravilha! Esses encontros com a "transcendência" enchem-nos a alma para o resto da vida...
    Também tive a sorte de o conhecer numa daquelas excelentes formações de professores de Português que tive no tempo da reforma Veiga Simão. Uma maravilha!

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    1. Hoje reparo que conheci algumas pessoas sem as conhecer, Graça...

      Gente tão simples que não podiam escrever livros, no pensamento de um puto a entrar na adolescência...

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