quarta-feira, maio 17, 2017

As Pessoas que Gostamos de Ver e as que Precisamos de Encontrar...


A vida vai tornando as ruas cada vez mais longas, afastando-nos inevitavelmente de esquinas e lugares onde sabemos que podemos encontrar a Etelvina ou o Serafim (escolhi estes nomes porque ofereço-os muitas vezes à minha filha e ao meu filho...), e até a Miquelina...

Lembrei-me disto depois de receber o telefonema de um amigo que também escreve livros, a reclamar, por eu nunca aparecer, entre outras coisas.

Foi então que dei por mim a separar as pessoas de quem gostamos em dois grupos: as que gostamos de ver e as que precisamos de ver. As do primeiro grupo, normalmente são de boa memória, mas sabemos que podemos encontrá-las em qualquer altura, nunca é uma urgência. O precisar é diferente, muitas vezes é para ontem, até conseguimos desmarcar coisas só para estarmos com estas gentes especiais, capazes de nos encher a alma e fazer sorrir até aos dramas...

Ainda de volta ao telefonema, que me fez pensar nestas coisas, embora goste deste prosador de mão cheia, não me senti nada confortável com a última conversa que tivemos, com mais três personagens também ligadas aos livros, até por me sentir forçado a defender o alvo de todos os ataques (a maior parte deles injustos...), que conheci na época em que escrevi o meu primeiro romance e que se revelou um bom companheiro. Além de me dar várias sugestões para melhorar o livro, apresentou-me vários escritores e ia-me falando de livros que tinha gostado e que eu devia ler.

Naquele momento não pensei no editor ou no antigo secretário de estado da cultura. Pensei apenas no homem simples e bonacheirão (tem a minha idade mas sempre pareceu mais velho, mesmo hoje ainda me leva uns "seis" anos de avanço...), com quem troquei tantas ideias sobre futebol, jornalismo e livros...

Sei que o meu amigo não levou a mal as minhas palavras, por saber que detesto injustiças. Agora os outros três fulanos, que têm de ter algum cuidado para não morder a língua, devem ter-me pintado de todas as cores, depois de os deixar na mesa de café a "pintar mais mantas". É por isso que me telefona e me fala do que está a escrever e quer saber coisas de mim...

Um dia destes a gente encontra-se. Mas não precisa de ser hoje...

(Fotografia de Luís Eme)

2 comentários:

  1. Luís, tenho pessoas, poucas, pelas quais altero sem qualquer dificuldade todo um programa. Procuro ser muito restrita neste tipo de flexibilidade por causa das decepções.

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    1. Eu também. É normal, Isabel, nesta "correria" cada vez mais louca. :)

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