sexta-feira, julho 05, 2013

«Eu nunca quis ser uma grande estrela, queria ser apenas actriz.»


Nunca esqueci aquela frase, «eu nunca quis ser uma grande estrela, queria ser apenas actriz.» Até por pensar que estava afastada da realidade...

Ela continua a ser uma mulher bonita. Entrou bem nos sessenta, nem sequer se preocupa em esconder muito as rugas, exagerando na maquilhagem.

Às vezes pensa que perdeu mais do que ganhou por ter um palminho de cara, outras nem por isso.

Tinha o cabelo claro como a Marylin e isso foi fatal. Quem não a conhecia (e até quem a conhecia...) gostava de contar anedotas sobre louras burras, nas suas costas, com segunda, terceira e quarta intenção.

Sabe que se não fosse bonita não teria casado com um empresário, que lhe deu a segurança necessária, para com menos de trinta anos poder dizer: «a partir de agora só farei coisas de que goste.»

Quando olha para trás sorri e diz que foi mais feliz como esposa e mãe, do que o que poderia ter sido como actriz. Eu acredito, mas não sei se ela acredita...

Quando lhe perguntei, porque é que quis ser actriz, respondeu-me: «quando somos jovens temos sempre muitos sonhos. Olhamos para o mundo com mais cores, que as que ele realmente tem. Num país fechado, com tão pouca coisa para se puder ser, nos anos sessenta, era normal na adolescência querermos ser cantoras ou actrizes. Como eu não sabia cantar...»

Sorriu antes de continuar: «havia uma grande curiosidade sobre a vida dos artistas, que na altura era descrita como uma coisa sensacional na "Plateia" e em outras revistas. Vivíamos todas "apaixonadas" por homens que nem sequer gostavam de mulheres.»

Acrescentei que ainda hoje era assim, que as coisas não tinham mudado tanto. Não concordou nada: «mudaram sim, hoje as revistas só exploram mexericos, vivem das meias verdades e das meias mentiras.»

Disse-lhe que, apesar de tudo, as revistas de hoje devem retratar melhor a realidade, que as do seu tempo de juventude.

Ficou em silêncio uns segundos, antes de me dizer que sim, com a cabeça.

O óleo é de Ger Eikendal.

4 comentários:

  1. [me entrelaço com a luz
    de uma estrela que não condiz
    com a falta de brilho que conduz
    o seu espaço infeliz]


    abç

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  2. Por várias razões, entre as quais a a saúde do marido, e as férias da neta, além de uma tendinite, tenho estado afastada da net, exceto um pouquinho no FB à noite.
    Li agora todos os textos desta página, até ao medo masculino.
    Não vou comentar todas pelo que peço desculpa.
    Provavelmente a senhora em questão terá sido mais feliz do que se tivesse sido uma grande estrela. A maioria das que conhecemos não o foram, apesar de terem meio mundo a seus pés.
    Um abraço e boas férias.

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  3. abraço Elvira e as melhoras por casa.

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