terça-feira, agosto 17, 2010

O Sítio das Mulheres Mortas

Não, não vou falar dos políticos hipócritas e incompetentes, que se refugiam atrás de estatísticas falaciosas, seja sobre incêndios, saúde ou desemprego.
Prefiro falar da crónica de Inês Pedrosa da revista "Única", de 14 de Agosto. Começa assim:
«Neste preciso momento há uma mulher a ser espancada pelo homem que amou. Uma mulher que não apresentará queixa das sevícias que sofre e aguentará calada, pensando no exemplo dessa Maria de Fátima que foi esfaqueada até à morte - 36 facadas - pelo homem de quem tinha apresentado queixa.»
É possível que algumas pessoas achem a crónica da Inês exagerada. Não, não é. Está lá tudo. Especialmente o papel passivo da justiça e das forças policiais, demasiado conservadoras, no pior sentido do termo.
Já não olho para esta questão de uma forma tão racional e fria como olhava. Especialmente depois de conhecer as vitimas de dois casos, um dos quais só terminou quando a mulher em causa deu entrada nas urgências do hospital, em muito mau estado. Ela aceitou a situação durante anos, pela completa dependência económica do pai dos seus dois filhos. Na cama do hospital deu-se o "click" e conseguiu libertar-se da besta com quem tinha casado. Mas voltou a ser vitima da nossa justiça, mais uma vez, pois ficou sem a guarda dos filhos. O tribunal entregou os filhos ao agressor cobarde, que nunca se incomodou de bater na mulher, na presença das crianças.
Quando as forças de autoridade deixarem, de uma vez por todas, de se recordarem do ditado, «entre marido e mulher não metas a colher», salvarão muitas vidas.
Dos tribunais nem falo, a comparação que a Inês faz entre o número de queixas (30.543) e as pessoas que estão a cumprir pena (59), diz tudo...
O bonito óleo é de Paul Turner.

15 comentários:

  1. Também gostei muito dessa crónica. Incisiva.

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  2. Também li o texto da Inês Pedrosa e confesso que me envergonho de viver num país assim. Ela não exagerou. As coisas que se passam são muito piores...
    Um abraço, Luís.

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  3. Vergonhoso, verdadeiramente vergonhoso. Terra sem lei.

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  4. Muitas vezes as queixas não levam a condenações porque a vítima, única testemunha, se cala (e não por ter medo, mas porque perdoou o marido ou companheiro).

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  5. Lembrei-me de um caso em que um senhor idoso tentou impedir a agressão e por isso foi ameaçado com a arma do crime, mas depois prestou depoimento em tribunal. Achei que era alguém verdadeiramente admirável.

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  6. Recordo-me de um caso em que, numa área pública, um “marido” estava a agredir a esposa e esfaqueou (causando morte) um homem que tentou ajudar a senhora.

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  7. Conheço o caso de uma jovem que foi à GNR pela 3ª ou 4ª vez apresentar queixa do marido e quando voltou para casa, acompanhada pela mãe, foi morta a tiro por ele!
    Deixou três crianças órfãs...
    As autoridades tiveram mais que tempo de a proteger e não o fizeram!

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  8. sem qualquer dúvida, Helena.

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  9. é uma vergonha mesmo, Graça.

    parece que ninguém respeita ninguém.

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  10. caminhamos para aí, Catarina.

    como é que é possível?

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  11. tenho dificuldades em comentar o teu primeiro comentário, Redonda.

    se isso acontece, a maior parte das vezes deve ser por coação.

    em relação ao segundo, é um risco. mas tudo na vida é risco, até atravessar a rua...

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  12. as pessoas ficam fora de si, é complicado agir nessas alturas, mas é pior fingir que não vemos, Catarina.

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  13. sim, acontece com frequência duvidarem das mulheres agredidas, ou pelo menos fingirem, para não terem de abrir um processo, Rosa.

    parece que é preciso as pessoas estarem cheias de sangue para agirem.

    é a lei e a justiça que temos

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  14. Não só eles não cumprem pena como elas é que são retiradas da sua casa por questões de segurança, em vez de sairem eles.
    Como é que elas podem continuar a sua vida, assim?
    Beijinhos.

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  15. é muito dificil, Filoxera...

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