A personagem principal desta fotografia é a carreira da Meda, o veículo que se vê em segundo plano, com capacidade para transportar uma dúzia de pessoas, a carga pesada no compartimento J e a bagagem no tejadilho a que se acedia por uma escada exterior, onde algumas vezes me dependurei.
Claro que a carreira da Meda, ou a carreira da Viúva, não era a preto e branco e nas suas cores bem combinadas predominava o verde claro que alguns castanhos e outros tantos amarelos sublinhavam.
São visíveis, na retaguarda, as três primeiras letras do nome da firma, “VIUVA CARNEIRO E FILHOS, LDª” e quem me dera poder virá-la de frente para mostrar os cromados do radiador, o distintivo da marca e as tabuletas amovíveis que indicavam o seu destino e o assinalavam como transporte colectivo de passageiros.
O autor desta fotografia foi o Alfredo que, em meados dos anos quarenta, voltou do Brasil com sotaque e uma “kodak” com que fixou para a posteridade esta e outras cenas que procuro recuperar. Eu sou uma das crianças do grupo e a minha mãe diria que sou o mais lindo de todos, mas ela não deixaria de aceitar que o mesmo dissessem dos seus, as outras mães.
Suspeito que nesse dia ninguém chegou, ninguém partiu, só subimos até à paragem para ver passar a carreira, imitando a gente da Vila que todos os dias interrompia o trabalho para a ver chagar à Avenida, assim iludindo o desejo de partir.
Ainda que quiséssemos embarcar não caberíamos todos, mas dou-me conta do desacerto desta palavra com sabor a cais, aqui tão longe do mar!
Pela roupa ligeira que vestíamos seria Verão, talvez domingo, pois tanta gente desocupada àquela hora, só mesmo num domingo o que pode ser confirmado pela roupa que, embora modesta, não era roupa de todos os dias.
Que eram dezasseis horas e trinta minutos da tarde é mais que certo, pois era esta a hora a que a Carreira da Viúva chegava pontualmente aos Pereiros, depois de ter vencido a estrada íngreme, aberta ao sabor das curvas de nível, desde o Douro, lá ao fundo, no Pinhão.
Ao longo da vida, várias vezes revisitei esta fotografia para avivar a memória que dela guardo e da sua circunstância. Obrigado, minha mãe, pelo cuidado com que a guardou durante mais de sessenta anos, para que eu a possa partilhar!
Claro que a carreira da Meda, ou a carreira da Viúva, não era a preto e branco e nas suas cores bem combinadas predominava o verde claro que alguns castanhos e outros tantos amarelos sublinhavam.
São visíveis, na retaguarda, as três primeiras letras do nome da firma, “VIUVA CARNEIRO E FILHOS, LDª” e quem me dera poder virá-la de frente para mostrar os cromados do radiador, o distintivo da marca e as tabuletas amovíveis que indicavam o seu destino e o assinalavam como transporte colectivo de passageiros.
O autor desta fotografia foi o Alfredo que, em meados dos anos quarenta, voltou do Brasil com sotaque e uma “kodak” com que fixou para a posteridade esta e outras cenas que procuro recuperar. Eu sou uma das crianças do grupo e a minha mãe diria que sou o mais lindo de todos, mas ela não deixaria de aceitar que o mesmo dissessem dos seus, as outras mães.
Suspeito que nesse dia ninguém chegou, ninguém partiu, só subimos até à paragem para ver passar a carreira, imitando a gente da Vila que todos os dias interrompia o trabalho para a ver chagar à Avenida, assim iludindo o desejo de partir.
Ainda que quiséssemos embarcar não caberíamos todos, mas dou-me conta do desacerto desta palavra com sabor a cais, aqui tão longe do mar!
Pela roupa ligeira que vestíamos seria Verão, talvez domingo, pois tanta gente desocupada àquela hora, só mesmo num domingo o que pode ser confirmado pela roupa que, embora modesta, não era roupa de todos os dias.
Que eram dezasseis horas e trinta minutos da tarde é mais que certo, pois era esta a hora a que a Carreira da Viúva chegava pontualmente aos Pereiros, depois de ter vencido a estrada íngreme, aberta ao sabor das curvas de nível, desde o Douro, lá ao fundo, no Pinhão.
Ao longo da vida, várias vezes revisitei esta fotografia para avivar a memória que dela guardo e da sua circunstância. Obrigado, minha mãe, pelo cuidado com que a guardou durante mais de sessenta anos, para que eu a possa partilhar!
Joaquim Nascimento
As fotografias, os olhares de outros que nos permitem manter em nós, e passarem a ser os nossos olhos a conter o tempo, os rostos, as memórias do que foi.
ResponderEliminarComo de repente se pode sentir o cromado e a cor no preto e branco de uma memória, no som da imagem parada de tantas expectativas, é possível reconhecer no entusiasmo de tirar uma foto ao lado de uma camioneta, o sonho de viajar nela, para tão longe quanto o desejo pode permitir.
Ao ver esta fotografia (e ler o texto...) sinto pena de não ter nenhuma fotografia junto a um dos autocarros dos "Claras" que apanhava das Caldas para Salir de Matos...
ResponderEliminarOlá!Cheguei ao seu blog através deste artigo, que adorei.Lembro-me da minha mãe cantar "Carreira da Mêda trabalha a carvão...".Durante dois anos fiz parte desse percurso (Bateiras-Pereiros diariamente) e imagino como seria fazê-lo na carreira.Nem poderia ser!Parabéns pelo blog.Vou lê-lo atentamente.É natural de Pereiros?Gostei da gente de lá!
ResponderEliminaro texto não é meu, mas sim de Joaquim Nascimento, que ele sim tem ligações a essa região, Zéziinha.
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