terça-feira, junho 07, 2022

Um País que não se Reforma e o Poeta que não Escreve apenas Poemas...


Vou voltar ao livro "A Essência do Comércio" de Fernando Pessoa, desta vez por uma questão mais laboral que comercial.

Fernando Pessoa neste pequeno livro também aborda a forma como a sociedade está organizada. Quem o ler, pensa que ele defende as ideias da "Iniciativa Liberal", mas não é bem assim... Ele está sim, farto de país que parece ingovernável. É por isso que é muito importante situarmo-nos no seu tempo (o texto foi escrito em Fevereiro de 1926, ainda na Primeira República, onde se assistiu a quase um "PREC", que foi aquecendo em lume brando, ao longo dos quase 16 anos de "desnorte" governativo, com cada vez mais descontentamento popular, que acabaria por gerar uma ditadura que durou 48 anos...).

Farto de assistir a todo o género de "oportunismos", no seio da administração pública, Pessoa defende uma sociedade com pouco Estado. Claro que ele não lidou com o "capitalismo selvagem" dos nossos dias...

Lá estou eu "a fugir" ao que queria escrever...

Hoje fui às Caldas e numa das artérias da cidade, estavam a arranjar um passeio. Eram dois funcionários que ali estavam a trabalhar (aliás, a fingir...). Como sempre, ainda de manhã, dou uma volta pela cidade. Quase uma hora depois, quando voltei a passar rente ao passeio, vi que estava tudo igual: as ferramentas continuavam encostadas a um muro e os dois trabalhadores também se mantinham na conversa. Voltei a ter de passar pela estrada (tal como todas as pessoas que passavam por ali...) e pensei que estas pessoas, como normalmente não são muito bem pagas, acham que também têm de trabalhar pouco...

Há quase cem anos, Fernando Pessoa, escreveu: «Nenhum homem de verdadeira energia e ambição entra para o serviço fixo do Estado. Não entra porque não há ali caminho para a energia, e muito menos para a ambição.»

Infelizmente não se aprendeu nada em um século. Muitos dos impostos que pagamos são para pagar ordenados na função pública, onde como muito bem diz o Poeta, não há ali caminho para a energia nem para a ambição (eu acrescentava exigência...) e é por isso que continuamos a ser tão mal atendidos em dezenas de serviços públicos. Além de estarem com  cara de quem "precisa de ir ao WC", informam-nos muitas vezes de forma deficiente, obrigando-nos a ter de voltar aos seus serviços... E nem vou falar da saúde, onde os serviços públicos estão muito piores que antes da pandemia. Os médicos e os enfermeiros continuam a achar que temos de esperar pelo menos uma hora, até sermos atendidos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

 

4 comentários:

  1. Luís, os médicos e os enfermeiros arriscaram as suas vidas durante a pandemia...eu sei do que falo porque a minha filha e o meu genro são ambos médicos e deram o litro!
    Eu própria sou funcionária pública e farto-me de trabalhar...nem toda a gente anda nas obras, encostados às paredes.

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    1. Alguns médicos e enfermeiros durante a pandemia arriscaram a vida, outros ficaram em casa, Maria.

      Mas não é disso que quero falar, quero falar é da falta de exigência e brio profissional de uma boa parte dos funcionários públicos, que nem os mínimos cumprem nas suas funções.

      Felizmente há alguns excelentes profissionais, mas infelizmente são a excepção e não a regra...

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  2. Não se pode tomar o todo pela parte. Isso é manifestamente injusto!

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    1. Qualquer análise será sempre injusta para as pessoas cumpridoras e responsáveis, Maria.

      Porque qualquer estudo sério que se faça diz-nos que 80% dos serviços públicos estão desadequados e desiquilibrados, não cumprindo os seus objectivos, é por isso que há filas e filas em tantos serviços e tempos de espera absurdos.

      Ainda há serviços que demoram uma semana a darem-nos um papel, que é feito em cinco minutos...

      Tanto que havia para dizer, Maria. Mas talvez os piores exemplos venham das autarquias, cujos partidos que estão do poder, sempre que podem, dão empregos aos familiares e amigos...

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