quarta-feira, outubro 28, 2015

Continuo a Pensar que o Jornalismo é Outra Coisa


Há vinte e três anos (como o tempo passa...), embora já fizesse jornalismo, sabia que a formação era importante e foi por isso que me inscrevi e fui admitido num dos cursos de jornalismo do CENJOR, onde continuei a minha aprendizagem (até aí sobretudo empírica), graças aos excelentes professores desta escola profissional.

Já nessa altura durante algumas aulas era comum questionarmos se o que o "Correio da Manhã" fazia era jornalismo. O problema é que o jornal, com o passar do tempo, ainda se conseguiu tornar em algo mais distante do que deve ser um órgão diário de informação, livre e pluralista.

Nunca se tornou tão evidente como nestes nossos tempos, que o "negócio", o "espectáculo" e a "sensação" se impuseram de vez, ao ponto de a verdade passar a ser uma coisa secundária nas suas páginas.

Nunca me esqueço de um assalto feito apenas por um jovem, que vivia com dificuldades financeiras, à recepção de um hotel lisboeta, e da volta que este jornal deu ao acto criminoso, colocando na sua primeira página a notícia de que "gangues organizados" andavam a semear o terror nos hotéis lisboetas. Este é apenas um, mas podia dar dezenas de exemplos do mesmo cariz.

Sei que este modelo de notícias oferecidas quase como episódios de novela vende. Também já percebi que as pessoas que lêem este jornal vivem sequiosas de sangue e de misérias alheias, mas também sei o jornalismo é outra coisa... 

O óleo é de Eva Navarro.

8 comentários:

  1. Exactamente Luís:

    -o jornalismo é outra coisa-!

    Infelizmente, este jornal mais a Quinta são a educação e a cultura, enfim o passatempo deste povo...

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    1. É verdade, Severino.

      Por vezes penso que sou de outro país...

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  2. Não tenho por hábito ler o jornal em questão, embora o marido o compre à Sexta-feira, nem sei bem porquê, a maior parte das vezes nem o lê. Hábitos.
    Não gosto das notícias sensacionalistas, sejam na imprensa ou na TV. Também lembro de quando o ano passado, um colega do meu filho teve um brutal acidente de carro, um choque frontal com outro carro, em que a ocupante desse carro, uma amiga minha de longa data, teve morte imediata. A notícia no " correio da manhã", trazia a foto do acidente e a notícia da morte imediata da Isaura, bem como que o condutor do outro carro, saiu ileso, não precisando sequer de ir ao hospital. O acidente foi aqui a 50 metros da minha porta, mas ainda que não fosse, a minha ligação às pessoas em questão, permitiu-me saber que o jovem esteve quase três meses no hospital, e teve que se submeter a várias cirurgias.
    Um abraço

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    1. Mas os tempos são das meias verdades e das meias mentiras, a começar nos governantes, Elvira...

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  3. Excelente o teu texto, Luís. Mas a verdade é que o "Correio da Manhã" é o jornal que mais vende porque diz o que as pessoas gostam de ler. É muito triste, mas é assim.
    Um abraço.

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    1. É muito triste mesmo, que haja tanta gente interessada na vida alheia, Graça.

      Isto sem falar da curiosidade mórbica sobre todo o "sangue" que escorre das suas páginas.

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  4. Pois, também me questiono se os artigos que leio é jornalismo ou apenas sensacionalismo para vender uma notícia que não é bem o que se lê.
    embora eu ache que a missão de um jornal e do jornalista é informar, mas isso sou eu que penso...

    :)

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    1. Há quem queira dar e quem queira receber outras coisas para lá da informação, Piedade...

      Mas que é revelador da cultura do nosso país, é.

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