quinta-feira, abril 19, 2007

Conversas de Abril (I)


Sei que a Revolução de Abril quase que deixou de ser tema de conversa nos nossos dias, em casa, no trabalho e nos cafés. As únicas pessoas que ainda falam, do antes e depois, de mil novecentos e setenta e quatro, são os investigadores, os saudosistas (de ambas as "barricadas"), e alguns jovens, curiosos com as histórias revolucionárias do regresso da liberdade. Estes últimos costumam ficar desiludidos quando descobrem que a Revolução foi de cravos e não de sangue. Têm dificuldade em vislumbrar uma revolução sem mortos e feridos, de ambos os lados, provavelmente influenciados pelos filmes repletos de heróis mortos e pelos telejornais demasiado violentos.
Já era crescido quando tive consciência de que um dos factores que mais contribuiram para o sucesso do 25 de Abril, foi o secretismo com que foi preparada toda a operação militar.
O facto de não haver civis envolvidos, ajudou, e muito, a que fosse possível manter em segredo toda a planificação do golpe. A disciplina e os códigos de honra militares fizeram com que não transparecesse quase nada para o exterior. Os "Capitães" dizeram apenas o indispensável a alguns antifascistas, para que fosse possível formar alguma rectaguarda, de apoio popular, caso fosse necessário.
Foi por essa razão que Eduardo foi completamente apanhado de surpresa, na Foz do Arelho, enquanto vagueava pela praia, sem saber muito bem o que fazer da vida...
A Revolução acabou por vir mesmo a calhar para ele, embora admitisse que era um, entre muitos (quase a totalidade da população portuguesa...), que apesar de fazer a oposição possível ao marcelismo, não sabia que se estava a preparar um golpe democrático nos quarteis. O 16 de Março também ajudara muito boa gente a baixar os braços, muito pela forma como foi "vendido" nos jornais "censurados".
Claro que no dia 26 de Abril apareceram milhares de revolucionários, em quase tudo o que era sitio, a dizerem que afinal sabiam o que se estava a passar... só que tinham permanecido em silêncio...

A foto que ilustra o texto foi tirada no dia 25 de Abril por Júlio Diniz, fotógrafo almadense.

2 comentários:

  1. Não posso, ou não devo, adiantar-me muito em comentários sobre esta questão.
    Pelo dever de lealdade que mantenho com alguém do núcleo inicial do movimento dos capitães. Reporto-me ao ano de 1973.
    Um dia talvez a gente fale, Luís.

    Por agora, quero dar-te os parabéns pelos textos que vens publicando aqui, e que de alguma forma podem servir aos jovens para um melhor conhecimento das pessoas envolvidas...

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  2. Obrigado pelas tuas palavras, Maria.

    O meu maior objectivo é esse, mostrar um pouco da nossa história, especialmente aos jovens que nem sequer conhecem um único "Capitão de Abril" (e existem muitos, já os vi a proclamarem a sua ignorância na TV...).

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