quarta-feira, abril 11, 2007

Albufeira


Em Albufeira, se conhecer as ruas estreitas sobre a falésia, pode espreitar o mar e livrar-se do barulho das ruas, do excesso de alguns prédios que lhe tapam a vista e até dos turistas que se atropelam, coitados, por falta de espaço vital. Percorra, então, o que resta da Vila antiga debruçada sobre o mar, olhe a última casa de açoteia e chaminé rendilhada, sente-se num banco ali à mão e contemple o azul até à linha do horizonte, céu e mar, olhe o peneco e a praia e descubra que praia é uma razoável extensão de areia dourada e fina, e não um amontoado de corpos queimando ao sol.
Albufeira está a lidar mal com o seu crescimento que reproduz, inexoravelmente, o modelo de todo o turismo algarvio, onde agora introduziram o golf.
O programa Polis, na vila antiga, tenta corrigir alguns aspectos mais negativos - eles dizem impactos, talvez de tiros - mas o que é mais visível neste esforço inglório feito de poeira e desconforto é a incapacidade de conter os automóveis fora do seu perímetro, a iluminação de boite, o piso de supermercado e, principalmente, o crescimento excessivo das esplanadas em frente dos restaurantes, quando se esperaria que todo este espaço fosse devolvido livre aos cidadãos. E nas suas costas continuam a plantar prédios, modificando o perfil das colinas, ocultando encostas, barrando linhas de água!
Nestes restaurantes-esplanada onde até o pobre frango da Guia teria vergonha de ser apresentado, nunca vai encontrar uns carapauzinhos fritos, como os que a Edite faz e põe na mesa acompanhados de salada fresca que perfuma com com orégãos e de um arroz de tomate malandrinho.
Se for à praça do peixe, ainda os compra, quase a saltar. Regresse a casa, aprenda a amanhá-los, salgue-os com a dose certa de sal grosso, espere que o tomem, passe-os por farinha e frite-os então em óleo bem quente o que, não sendo simples, cabe dentro dos seus dotes culinários e vai ocupar-lhe boa parte da manhã.
Em Albufeira, deve espreitar o mar e, se apurar o ouvido, ainda pode escutar as horas certas batidas pelo relógio da torre, horas laicas pois sino e torre são da Câmara.
Eu costumo contá-las pelos dedos, para não me enganar.
Mais um texto de Joaquim Nascimento, frequentador assíduo de um dos bancos cá do Largo.

3 comentários:

  1. Acreditas que há mais de 20 anos não vou a Albufeira?
    Aliás, tirando uns dias de inverno que passei em Monte Gordo, há mais de 20 anos que não percorro o Algarve.
    Tem gente demais... Assim uma espécie de Foz do Arelho em Agosto, pra pior...

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  2. 1. Agradeço a Luís Eme a fotografia que ilustra o texto. Será do início da década de sessenta, mas hei-de perguntar ao Valdemiro se consegue identificar a velha camionete estacionada ou o início das obras que hviam de dar o Restaurante "A Ruina", bom de peixe, mas a que também se pode chamar "Arruína".
    2. Não seja radical; Maria. Vá por mim e escolha os tempos e os sítios certos. Agora, enquanro não chega Julho, é exclente.
    3. Já lá vão doze anos, José Francisco !
    Qundo voltar, você merece a raridade dos carapaus alimados e o seu requinte. Raras pessoas ainda os fazem e alguns antigos os apreciam muito.
    Teremos imenso prazer em servir-lhos à nossa mesa.
    Joaquim

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  3. E há sempre os passeios com olhos de ver que nos mostram o que foi e hoje não é. Se formos em silêncio, no pico do sol, quando todos estão na praia, ouvimos em nós memórias de outros, e o que nos contaram sobre esta outra Albufeira. Menos Polis, mais vila. E o mar, haverá sempre o mar(?).

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