domingo, outubro 19, 2025

«Eles continuam burros, mas não sabem...»


O mundo avançava levando-nos de viagem numa das carruagens do metro. Éramos os únicos que conversávamos. O resto da malta, novos, velhos e assim assim, estava presa ao quadrado que as ligava a um outro mundo, distante do nosso. A única excepção que confirmava a regra era uma senhora de idade, de ar triste, que olhava para o seu reflexo no vidro. Devia fazer contas à vida, cada vez mais difícil, especialmente para quem sonhava ter um final de vida diferente...

O Carlos começou a falar das pessoas que nunca leram um livro na vida ou uma reportagem a sério de jornal. Sempre deram preferências aos cabeçalhos e às notícias de mexericos ou crimes. A maior parte nem estranhou passar das páginas do Correio da Manhã para as notícias oferecidas pelos manipuladores do mundo virtual.

Eu sabia que ele estava certo, mesmo que raramente usasse "travões" e adorasse ser politicamente incorrecto, Mas estávamos no metro e não no nosso café... Foi por isso que as pessoas que estavam ao nosso lado, mostraram algum desconforto pelas suas palavras, embora continuassem presas aos smartphones.

Saímos na nossa estação e enquanto caminhávamos ele resolveu acabar com o assunto da melhor maneira, com uma frase que era toda ela um poema: «Eles continuam burros, mas não sabem...»

Era uma daquelas frases que também podia ser dita pelos nossos queridos José Gomes Ferreira ou Alexandre O'Neill, para caracterizar o "bom povo português"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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