quarta-feira, junho 26, 2024

Não é nenhuma novidade , de que «há gente para tudo»...


Nunca mais tinha entrado no café. Preferia parar na pastelaria. Mas naquele domingo a pastelaria estava fechada e ele lá entrou, de fugida, no café, para beber a bica da manhã. 

A cara não me era desconhecida. Mas não lhe dei muita atenção, embora tenha percebido que foi atendido com maus modos e foi por isso que mal bebeu o café saiu pela porta fora.

Mal ele saiu, a dona do café começou a "pintar-lhe a manta", dizendo que «Há gente para tudo.»

A minha companheira disse-me que ele morava na Avenida e era deputado, desde as eleições de Março.

«Vejam lá, que o merdas até mudou de penteado e comprou óculos redondos cor pele de tartaruga», continuou a mulher atrás do balcão.

Um dos clientes encostado ao balcão deu a novidade de que o tipo ainda não usara da palavra nos Passos Perdidos. Estava lá apenas a para fazer parte do coro dos "muito bem", assim que alguém acabava de falar, e bater palmas, claro.

«Faz cá tanta falta como a fome!» Insistiu a dona do café.

Entretanto nós saímos, com a sensação de que a conversa estava longe de ter acabado.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


3 comentários:

  1. Respostas
    1. Claro.

      Mas o título tanto serve para o deputado como para a dona do café, Rosa. :)

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    2. Tal e qual, Luís!

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