terça-feira, janeiro 10, 2023

«As culturas perdem com quase tudo...»


Acendeu um cigarro e depois disse: «as salas de teatro voltaram a ter demasiados lugares vagos.»

Antes que eu o interrompesse,  explicou-nos o óbvio. «Sei que não é nenhuma novidade. Acontece sempre que aumenta o preço do pão, do leite, do peixe, da carne...»

E depois fez uma confissão: «É nestes momentos que tenho inveja do futebol. Não há nenhuma crise que consiga tirar os malucos das bancadas dos estádios.»

Levantou-se e antes de nos virar costas, ofereceu-nos mais meia-dúzia de palavras, com um sorriso que tinha tanto de amargo como de derrotista: «As culturas perdem com quase tudo...»

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


10 comentários:

  1. “... Não há nenhuma crise que consiga tirar os malucos das bancadas dos estádios.” E eu acrescento: Não há nenhuma crise que impeça os malucos de comprar um telemóvel da mais recente geração.

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    1. Pois... e também dos grandes concertos musicais, Catarina. Mas nestes, muitas vezes são os avós que subsidiam os netos (eu sei como é...), para estas maluquices.

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  2. Bom dia
    Infelizmente é sempre a mais afetada ..
    E falo de mim próprio .

    JR

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    1. Todos nós que gostamos das coisas da cultura, não deixamos de escolher o "bife", em vez do livro, do filme ou da peça de teatro, Joaquim...

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  3. Belo e dramático texto e um título que diz tudo.
    Vou, com a devida vénia, copiá-lo..
    Abraço

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  4. Tenho a leve ideia que não identifiquei o comentário anterior.
    As minhas desculpas.

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  5. Um povo a contar os cêntimos como pode cultivar-se?

    Abraço

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    1. Exactamente, Rosa.

      Isso também explica muito o porquê de se ser mais facilmente manipulado...

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