segunda-feira, setembro 04, 2017

Escritores, Porcos e Chouriços...

A idade dá-nos muitas coisas, a maturidade talvez seja uma das mais importantes, pois faz com que sejamos capazes de antecipar cenários e até de utilizarmos algum cinismo, especialmente para quem gosta de nos tomar por parvos.

Recebi um telefonema, mais uma vez de alguém a pedir-me qualquer coisa (99% dos telefonemas que recebo é de gente a pedir-me coisas e nunca a oferecer o que quer que seja. Claro que não estou a contar com os beneméritos dos "call-centers"...). E lá disse, mais uma vez, que não tinha nada do que ela queria na "minha loja"...

Olhei para trás e lembrei-me de dois amigos importantes no meu percurso de "historiador local". Além do seu companheirismo e amizade ofereceram-me retratos perfeitos de algumas personagens locais, ligadas ao mundo dos livros, famosas por só darem "chouriços a quem lhes dava porcos".

Foi graças a estes dois companheiros que fui escrevendo livros sobre Almada (já quase duas dezenas...). Às vezes penso que foi mau, outras nem por isso. Ou seja, podia ter feito outras coisas. Poder podia, mas... Isto explica apenas um bocadinho da história de ter escrito um romance há já mais de vinte cinco anos e nunca mais ter repetido um Verão  tão "inspirador e solitário"...

Quando escrevi o "Bilhete para a Violência", vivia só, tinha duas ou três amigas especiais, mas nada de compromissos com quem quer que fosse... Podia chegar a casa às dez da noite e estar a escrever até às cinco da manhã, apenas com a companhia de uma música suave... e no dia seguinte podia começar mais cedo e ficar a escrever até mais tarde... E foi muito assim no Verão de 1991, tal era a obsessão (algo que nunca mais senti por nenhum candidato a "romance"...) pela história e pelas personagens, que já mandavam mais no livro que eu (isto aconteceu mesmo, ao ponto de conseguirem alterar vários capítulos).

É por isso que penso que só voltarei a conseguir escrever um segundo romance quando for possível "meter férias" da minha vida familiar.

Quem diria, pensei nestas coisas todas por causa do telefonema de uma "caçadora" de porcos... Tenho de lhe agradecer.

(Óleo de Alfred Victor Fournier)

4 comentários:

  1. Concordo que para escrever um romance, tenha que haver uma disponibilidade muito grande de tempo, além de um certo distanciamento da vida familiar. Mas se a inspiração está lá, ele sairá, no momento certo.
    Abraço

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    1. Não é bem assim, Elvira.

      Comecei pelo menos meia dúzia de romances que ficaram sem fim... porque nunca cheguei ao "ponto".

      Eu sei que preciso de isolamento...

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  2. Ai que bom podermos meter férias da família!! Estou mesmo a precisar, mas eu não tenho talento para escrever romances...

    Força, Luís! Toca a escrever!

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    1. Mas eu não posso nem devo meter férias da família, Graça, nos anos mais próximos.

      Tenho de deixar a minha pequenota crescer mais um palmo (só tem treze anos e precisa de ter o pai por perto...)

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