terça-feira, junho 17, 2025

O cumprimento diário que não custa nada e sabe bem...


A maior parte das pessoas que cumprimento com um bom dia ou uma boa tarde, são vizinhos e vizinhas, já com alguma idade.

Faço-o com satisfação, por notar que ficam agradados, apenas com este simples cumprimento diário. É algo que não custa nada e que também torna o nosso dia mais solar...

Pensei nisto depois de ler uma notícia sobre o óbvio, que onde se morre mais de solidão, é nas grandes cidades. 

Sim, o barulho dos outros, mesmo nos nossos prédios, não passa de ilusão, é quase igual às buzinas e aos motores dos carros das ruas...

Nas aldeias pode-se viver em silêncio, mas conhece-se toda a gente, sabe-se onde está o outro. E quando se dá pela sua falta, corre-se à sua procura...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 16, 2025

Ficamos sempre mais pobres, mesmo sem nos apercebermos...


Embora Almada seja uma cidade grande, é quase uma "aldeia" no campo cultural.

É por isso que quando nos deixam duas pessoas num curto espaço de tempo (uma semana...), ligadas ao mundo dos livros, perguntamos, por onde andámos, que nunca tivemos "tempo" para ter uma simples conversa (ao telefone não conta...) com elas...

Falo de Armindo Reis e Teresa Rita Lopes, professores, escritores e poetas... O homem esguio que gostava de escrever para crianças e a mulher de olhos cor de mar, que viveu sempre apaixonada por Pessoa.

Se com a Teresa Rita só falei, uma vez, ao telefone, com o Armindo, começámo-nos a cumprimentar há menos de um ano, de uma forma simpática, por almoçarmos às segundas no mesmo restaurante e termos um ou outro amigo em comum...

Não foi por nos deixarem que passaram a ser boas pessoas ou melhores escritores. Até porque nos deixaram os seus livros para os revisitarmos... Mas não deixa de ser estranho, que tenhamos vivido na mesma cidade e tenhamos passado a vida a percorrer ruas diferentes...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, junho 15, 2025

«Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»


Às vezes penso que me fazem perguntas difíceis, mais vezes do que deviam.

Outras não. É a realidade a querer saber mais coisas da realidade...

Estive com a Rita. Não a via há meses. 

Falámos muito. Falamos sempre muito, até nos atropelamos, por vezes. E sorrimos em vez de nos chatearmos...

Claro, conversámos sobre o que se está a passar no nosso país. Foi quando ela me fez a pergunta de mais de cem paus: «Porque é que há tanta gente a dar tiros nos pés?»

Disse-lhe que ela é que me poderia falar sobre o assunto, porque a parte mais confusa nisto tudo, parecem ser as mulheres. Nunca vou perceber, porque razão não aproveitam o facto de serem metade da população, para tornar o mundo mais igual em direitos. Fui provocador e acrescentei que talvez lhes agradasse o papel confortável de "donas de casa"...

Ela sorriu e disse: «Talvez...»

Ou seja, também não percebe o que se passa na cabeça de tantas mulheres, exploradas e tratadas quase como objectos, que preferem votar nos políticos e nos partidos que as menorizam e retiram direitos, não escolhendo o que é melhor para elas e para os filhos...

O problema é que não se trata de um problema local. É um problema global.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 14, 2025

Não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode


Pode parecer um pouco ridículo, mas muitas vezes uso a televisão como rádio, e o mais curioso é ter como estação preferida a "Rádio Lusitânia", que só passa música portuguesa, atravessando todos os géneros musicais e visitando todas as épocas.

Faço-o porque a rádio é uma boa companhia. Sim, mesmo que o som saia de dentro da televisão, é rádio que oiço (até por não ter imagens...), é a rádio musical que finje não estar ali, mas está...

Mas não era sobre isso que queria escrever (já começa a ser um hábito).

Na sexta-feira, antes de me deitar, descobri que a RTP1 estava a transmitir um dos concertos de David Fonseca e acabei por ficar a ver e a ouvir. E depois fiquei a pensar em todos os músicos e cantores de qualidade que temos, que têm menos tempo de antena que a gente de "voz torta", que inunda os programas televisivos de entretenimento dos fins de semana e cantam sempre a mesma canção...

Mas ainda fui mais longe e pensei em quatro ou cinco vozes que parecem ter mais mundo, que o deste pequeno país. Sim, que não é artista "pop" quem quer, mas sim quem pode, quem tem arte para tal... o David Fonseca pertence claramente a este grupo restrito, onde também estão a Sónia Tavares (e os Gift), a Manuela Azevedo (e os Clã), o Jorge Palma ou o genial Rui Reininho (e os GNR).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 13, 2025

A voracidade dos dias...


Se passasse outro fim de semana, ou mesmo uma semana, perdido - ou achado - no interior, sem ligar a televisão ou abrir o computador (como não uso smartphone é menos uma ligação ao mundo com que me preocupo...), a guerra entre Israel e o Irão passava-me ao lado, assim como a pretensa transformação do país que se afirmava como "o mais livre do mundo", numa ditadura trampista (sim, é sobretudo de trampa que se fala...).

Esquecia a frase que tinha escrito, quando olhei para trás e pensei nas muitas coisas que planeio fazer e não faço.

Acabara de me confrontar com duas coisas, quase paralelas: ter ideias a mais e coragem a menos...

E agora que os dias parecem ter menos horas (onde é que já vão as 24...), ainda há a desculpa, quase literária, da "voracidade dos dias", para tentar explicar esta inércia cada vez mais natural...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, junho 12, 2025

«No nosso país é difícil ser tudo...»


A jovem que continuava a sonhar com uma carreira de sucesso como actriz, lamentava-se, «é tão difícil ser artista no nosso país...»

O Gil aproveitou a quase deixa para usar uma lente de aumentar e dizer, «no nosso país é difícil ser tudo...»

O Carlos, atento como sempre, não perdeu a oportunidade de dizer  que no nosso país «a vida só é boa para os filhos de pais ricos ou de políticos sem vergonha.»

Acabámos por ficar todos a sorrir, como se ele tivesse dito uma graça e não uma verdade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 11, 2025

Ser português e defender o país, não é isto...


É importante dizer que o Dia de Portugal é de todos os portugueses, e não de apenas alguns.

E não é o facto de um partido ter agora sessenta deputados no parlamento, que fica com mais legitimidade para dizer e fazer tudo o que lhe apetece. Deveria ser sim, mais responsável. Mas isso é pedir quase o impossível, como se percebeu pelos comentários xenófobos, provocadores e ignorantes de alguns deputados da extrema-direita, em relação aos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Lídia Jorge durante a cerimónia comemorativa de Lagos. 

Mas o pior ainda estava para acontecer, em Santos, com agressões cobardes a actores que fazem parte do elenco da peça, Amor é um fogo que arde sem se ver, da companhia de teatro a  Barraca, por um grupo de "neo-nazis".

Se em relação aos deputados, parece não haver muito a fazer, já em relação às agressões, ainda somos um Estado de direito, e quem agride de forma gratuita tem de ser severamente punido.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 10, 2025

Lá estamos nós, no dia que é muitos dias...


Este dia que podia ser só de Portugal e das Comunidades, também é de Camões, o nosso poeta Luís, que foi capaz de escrever sonetos há mais quinhentos anos, que ainda fazem sentido e têm beleza... e até são cantados...

Pensar que quando a Amália resolveu trazer Camões para o fado, foi quase um escândalo nacional. Nem o meu querido Zé Gomes Ferreira achou graça, apesar de ser bastante avançado para o seu tempo. E depois vieram outros poetas até às vielas, numa clara demonstração do bom gosto da "Rainha do Fado".

Felizmente o Luís também era um homem do futuro, sabia que "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades".

Foi por isso que compreendeu, como poucos, que  "todo o mundo é composto de mudança".

São estas pequenas grandes coisas que fazem com que Luís de Camões continua a ser o nosso "poeta maior".

(Fotografia de Luís Eme - Constância)


segunda-feira, junho 09, 2025

As vitórias escondem tudo, mesmo que seja por um só dia...


As vitórias são o que são no desporto, especialmente no futebol, o lugar onde se passa mais rapidamente de besta a bestial e vice-versa.

Tudo isto para dizer que, nada mudou em relação ao que penso sobre o seleccionador nacional de futebol, Roberto Martinez, depois da vitória na Liga das Nações.

Basta olhar para o onze que escolheu (a insistência em João Neves a defesa-direito ou de Francisco Conceição a titular, sabendo que ele é bom como "agitador" de jogo, ou seja a entrar quando as coisas não estão a correr bem), numa final que era para ganhar denota, sobretudo, "burrice"...

Até o presidente da federação que andou a tomar refeições e a conversar com José Mourinho, Jorge Jesus e Sérgio Conceição, teve de afirmar na televisão que ele vai ficar até ao fim do contrato (veremos...).

A única coisa que sei, é que estes jogadores enormes, mereciam quem aproveitasse melhor as suas potencialidades, sem termos de estar a espera de golpes de sorte ou de recortes individuais, como foram os de um "gigante" chamado Nuno Mendes, de um malabarista como é Rafael Leão e de um guarda-redes extraordinário, como é o Diogo Costa, que adora defender grandes penalidades.

Apesar de considerar o Cristiano, um grande campeão e o maior atleta do mundo, não gosto que esta selecção "continue a ser dele". Ele já não tem condições para ser indiscutível, mas sim, para ser apenas mais um no grupo de vinte e seis (mesmo sabendo que ele nunca irá aceitar essa condição)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 08, 2025

Eu sei que há muito mais coisas, para além da "vida do campo", mas...


Apetece-me escrever, que "não há nada como a vida do campo"... mas claro que há, até mesmo para mim, que desde a infância, a "parte de leão" das férias grandes eram passadas na casa dos meus avós maternos, que eram agricultores a tempo inteiro.

Além da autêntica "quinta pedagógica" que ocupava os dois pátios rente à casa (havia um pouco de tudo, bois, burra, porcos, coelhos, galinhas, por vezes patos, o peru do Natal, e até porquinhos da índia... Havia as fazendas, as vinhas e outros espaços de brincadeira com os rapazes da aldeia, como os pinhais ou até o rio... ou seja, as férias eram um tempo de descoberta e de aventura...

Mesmo com estas memórias, há muito mais vida para lá dos campos. Até porque eu nestes tempos estava longe de adorar o trabalho agrícola, fingia que era um "menino da cidade", ao contrário do meu irmão.

Onde eu já vou...

Queria apenas dizer que passei este fim de semana (foi tudo demasiado rápido...) no campo, acordei duas noites com o chilrear da passarada (que é música para os meus ouvidos e algo de irritante para a minha companheira...).

O mais curioso, é que mesmo com televisão e internet dentro dos telemóveis, ela nunca foi ligada... e não senti falta nenhuma do mundo digital...

Claro que isto só aconteceu porque foram apenas dois dias e duas noites passados nos campos... sem tempo para sentir saudades do que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sábado, junho 07, 2025

«Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor de laranja?»


O mesmo garoto que quis saber o significado da palavra "honra" e que depois usou o aparecimento do Trump para aligeirarmos a nossa conversa, merece mais um destaque.

Sim, porque ele aproveitou a oportunidade  para dizer uma série de coisas curiosas e engraçadas sobre o "jeitoso da américa".

A melhor das várias saídas que teve foi uma pergunta, mais "visual" que todas as outras: «Ele é mesmo assim ou pinta a cara cor da laranja?»

Claro que lhe disse que ele pintava a cara. Devia ter um creme de cenoura especial, para cuidar das rugas. O que eu fui dizer. Foi logo contar à mãe e gargalhada geral.

Não há dúvida de que é mais agradável falar do aspecto, que das artimanhas e mentiras do pretenso "dono do mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 06, 2025

É uma constatação (sem contradições)...


Parece contraditório, mas não é. 

Não é caso único, e ainda bem.

Quem apanha os transportes públicos fica com a sensação de que se fala alto, com e sem telemóvel.  Não sei se existe alguma questão ligada à surdez, mas os africanos e os orientais das índias, exageram no volume das suas vozes.

Mas não é disso que quero falar. É de outra constatação, de se falar demasiado rápido. Quando ouvimos um estrangeiro a falar, ficamos sempre com a sensação de que estão a exagerar na velocidade com que debitam palavras.

O mais curioso, é eles dizerem o mesmo de nós. Sim, é normal um brasileiro não nos "perceber bem", por falarmos demasiado rápido (dizem eles...). Da mesma forma que também é normal um português não perceber bem um brasileiro, por ele falar demasiado rápido (dizemos nós...). E nem vou falar dos outros, dos "alemões" ou dos "ingaleses"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 05, 2025

A aposta na continuidade (parece que a cultura ainda tem cara de "papão"...)


O título que escolhi, "a aposta na continuidade", poderia servir para resumir as escolhas do primeiro-ministro para o novo governo. Mas não. O que quero falar é da Cultura, que agora se junta ao Desporto e à Juventude.

Devo começar por dizer que não tenho nada a dizer, em abono ou desabono, da ministra Margarida Balseiro Lopes.

Mas voltar a desvalorizar a cultura - como tem sido hábito dos sociais democratas -, ora acabando com o ministério, ou tentando banalizar a sua importância na sociedade, é o que é... (Bom bom são os duetos com Tony Carreira, que até mereciam uma cassete para se vender nas feiras...).

O facto da maior parte dos agentes culturais terem a fama (e o proveito) de ser de esquerda, terá a sua influência, como tem tido nas últimas décadas. É mais uma forma de tentar condicionar o mundo das artes e letras, mesmo que isso tenha uma influência negativa na sociedade, cada vez mais ignorante e limitada.

Mas o mais curioso, é juntar o desporto à cultura (a juventude casa com tudo...), tal como aconteceu durante muitos anos no Município de Almada e que eu nunca percebi as vantagens desta "união de facto".

Nota: a última medida de Dalila Rodrigues como ministra da Cultura, diz muito do seu carácter, ao despedir a programadora cultural do CCB, Aida Tavares, minutos antes de se despedir da pasta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 04, 2025

O Adeus a um excelente fotógrafo, a um Mestre...


Escolhi esta fotografia tirada à nossa poeta maior, Sophia de Mello Breyner Andresen, na sua casa (sei que não é a mais conhecida, foi por isso que a escolhi...) para homenagear o seu autor, um dos nossos grandes mestres da fotografia: Eduardo Gageiro.

(Fotografia de Eduardo Gageiro - Lisboa)


terça-feira, junho 03, 2025

«Já faltou mais, para que o humanismo volte a ser crime»


Ele podia utilizar outras palavras para falar destes tempos, onde começam a crescer sombras por todo o lado, mas usou Humanismo, talvez a mais sensata, mais profunda, mais abrangente, e por isso, também a melhor.

É muitas vezes usado quase como "emblema" de um tempo em que os homens que lutavam pela liberdade, aliás nem era preciso lutar, às vezes bastava "pensar"... Não se chateia nada, nem tem problemas em falar desses tempos, da prisão em Caxias e em Peniche, ou de quando percebeu que o único Deus que existe, está na cabeça de alguns homens, demasiado crédulos, pelo menos para as coisas que lhes convêm...

Tudo isto, porque o "profeta" do partido fascista, que agora que tem sessenta deputados e passou a ser apenas de "direita", já começou a falar do fim do regime, anunciando para breve o começo de uma "nova coisa", que os que espalham a tal palavra de Deus, chamam "novos tempos"...

Mas nem precisamos de falar do nosso "vendedor de ilusões", basta olhar para Gaza, para várias regiões africanas ou para a Ucrânia, para percebermos que o Humanismo é cada vez mais "uma treta"... 

E sim, ele tem razão, o Humanismo está quase, quase a ser crime...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 02, 2025

A exploração diária dos sentimentos (e viva a televisão...)


Uma das coisas que mudou muito nos últimos anos, com a cumplicidade da Televisão, foi a forma de se expressarem os sentimentos.

O que antes era para se sentir, normalmente em privado e intimamente, passou a ser público e até a ter preço (sim há quem venda os "sentimentos" em nome do espectáculo...).

Quem cresce hoje, graças aos exemplos que nos rodeiam um pouco por todo o lado, deve sentir-se confuso, ao ponto de ficar na dúvida em relação à forma como deve expressar os seus sentimentos, com o plástico e o postiço a sobreporem-se cada vez mais ao autêntico...

O mais curioso é continuarmos a descer, graças às "maravilhas" do pequeno écran, que cresceu, ao ponto de quase se disfarçar de "cinema". 

E, em nome das audiências e do negócio, inventa-se todos os dias um "coitadinho" (com mais ou menos pé...) capaz de fazer chorar as calçadas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 01, 2025

Parece normal, mas é tudo menos isso...


Talvez não seja uma coisa muito inteligente de se escrever, no primeiro dia de Junho. 

Talvez...

Mas foi por hoje ser um dia especial, que pensei na forma, cada vez mais descontraída, como nós, adultos, "usamos e abusamos" do querer das crianças, como se estas fossem o reflexo do espelho onde nos miramos. Sim, damos muitas vezes o empurrão necessário para que elas façam as coisas que gostamos (ou pensamos gostar mas não não tivemos tempo e espaço para 0 fazermos nas nossas infâncias...) e não o que lhes apetece fazer.

Parece normal, mas sei que é tudo menos isso... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)