sexta-feira, dezembro 17, 2021

As Minhas "Cores de Verão"...


Durante o primeiro ano de pandemia escrevi pouca ficção. A única explicação que encontro para isso, foi ambiente depressivo que nos rodeava. Também senti dificuldade em "ficcionar" um mundo, já tão ficcionado, diariamente, através da difusão de notícias diárias, umas mentirosas, outras cheias de contradições. Enfim...

Este Verão voltei à minha praia dos últimos anos, lá para o Sul. E foi inspirado nas cores de alguns fatos de banho, em palavras soltas que se aproximaram dos meus ouvidos e também em rostos, que andavam de um lado para o outro na praia, que voltei a escrever e a "inventar" pequenas estórias...

Todas as estórias que escrevi têm algum conteúdo moral, mas não passam de ficções... por exemplo, vou publicar aqui "o corpo que se esconde dentro dos calções pretos", que é o retrato imaginado sobre uma adolescente de cabelo curto, que estava vestida na praia de forma estranha, com calções de rapaz e uma parte de cima desportiva. Ela estava lá na praia, mas fui eu que insisti (sem a consultar) na história de mudança de sexo...

«O corpo é de mulher mas o corte de cabelo é de rapazinho, assim como o andar, quase desengonçado, e os calções de banho pretos e compridos que usa na praia.
Só a parte de cima é que destoa, ainda não conseguiu arranjar uma forma de disfarçar as maminhas, que cresceram mais do que queria. Mesmo assim, tenta escondê-las, da melhor maneira possível, dentro de um sutiã desportivo, também preto, a cor que mais se aproxima da sua vida.
Quer muito mudar, sonha ser o rapaz que tem dentro de si, expulsando o diabo de saias que manda no corpo com que nasceu.
A avó nem quer ouvir falar da história que se fala quase em surdina, da sua Joana se transformar em breve num João. Mas os pais sabem que não existe outra forma, de devolver a filha ao mundo das pessoas quase normais, tentando dar-lhe a identidade que talvez lhe permita ver, ao longe, a felicidade…»


11 comentários:

  1. Muito bonito!
    É preciso ter sensibilidade para escrever assim.
    Sensibilidade e empatia.
    E isto falta a muitas pessoas que vivem no espaço de julgamento.

    Bom fim de semana.

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  2. Bom dia
    Uma história que não é história , mas que vai vai continuar a ser vista como história.

    JR

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    1. A ficção às vezes diz mais verdades que a realidade, Joaquim...

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  3. Não sei avaliar isso de não me sentir bem com o meu corpo - tirando, obviamente, o facto de, quando estou mais gorda, isso me causar desconforto. E agora, que cheguei a uma idade mais avançada, já nem isso me preocupa muito.
    Contudo, se pudesse escolher, gostaria de ter nascido homem unicamente pelas vantagens, ditas sociais e profissionais que isso traz. Os homens qualificados ganham mais que as mulheres igualmente qualificadas, têm acesso mais facilitado a cargos de chefia e perdoa-se-lhes muito mais facilmente as chamadas imperfeições estéticas do que às mulheres. Quanto à questão da sensibilidade, há homens mais sensíveis que certas mulheres. Por isso, há muitas vantagens em pertencer ao sexo masculino 😊

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    1. É demasiado visível que há pessoas que não pertencem ao corpo que têm, até pela forma como se vestem e andam na rua, Maria.

      Mas há também vantagens em se ser mulher, Maria. Muitas, diria eu. :I

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    2. Ai sim? Diga lá uma ou duas?! LOL

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    3. A mulher é que escolhe o homem que quer, Maria.

      O homem continua a ser o "escolhido". :)

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    4. (não falei da maternidade, porque nem todas as mulheres acham que é uma diferença boa...)

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  4. Uma estória perfeitamente plausível.
    A primeira reação de algumas pessoas será a crítica, o julgamento, sem se darem ao trabalho de pensar que a pessoa em questão poderá estar a passar por uma fase difícil a tentar equilibrar o seu corpo com o seu pensamento e que tem todo o direito de se tornar na pessoa que quer ser .

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    1. Eu não consigo criticar, quando percebo que há ali qualquer coisa fora do contexto, Catarina.

      E em alguns casos trata-se de problemas hormonais, que dificultam a identidade sexual.

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