terça-feira, outubro 02, 2018

«Não, não é sempre não!»


Com cinquenta e seis anos de idade, casado e pai de dois filhos, podia ficar por aqui em silêncio. Era muito mais confortável.

Mas não me apetece. Estou farto de puritanismos e do politicamente correcto.

Sei também que podia esperar algum tempo, por causa dos ecos  de  revolta por causa de mais uma sentença absurda dos nossos tribunais, que penaliza claramente a mulher, em relação aos violadores.

Com todos estes movimentos em defesa da mulher e com o avolumar das suas acusações de violação (algumas com quarenta anos...), sinto que estão a querer destruir as relações entre um homem e uma mulher, todos os jogos de sedução que alimentavam o "amor". Não sei se apenas por que sim, ou se existe qualquer outro propósito social, aparentemente obscuro.

Eu ainda pertenço a uma geração em que por vezes a mulher dizia, não, ou não sei se, quando lhe apetecia dizer, sim (porque só as "galdérias" é que não se faziam difíceis...).

Claro que aceito que muitas vezes devíamos ter levado a sério um "não", e não o fizemos. Da mesma forma que muitas vezes ouvíamos um "não", sem que a nossa amante deixasse de nos beijar, apertar o corpo contra o nosso e relaxar as pernas...

É por isso que eu continuo a pensar - provavelmente mal -, ao contrário do que ouço por aí, que  «não, não é sempre não».

(Fotografia de Henry Clarke)

11 comentários:

  1. Luís, no que respeita a sedução, o mundo anda perigoso para os homens. (Assim de repente, 'meio mundo' de mulheres já foi assediado, maltratado... )
    Claro que há casos graves e temo que a poeira ajude a encobri-los.

    Ainda é a mulher que reproduz esse 'acanhamento'.
    Por exemplo, houve-se muito a mulher dizer "... namorados, que não foram muitos", sem que ninguém tivesse perguntado sobre quantidade; é ela que se autocensura.

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    1. Muito perigoso, Isabel. :)

      E com retroactivos (ainda aparece por ai algum caso passado durante a escola primária...)

      O comportamento do homem muitas vezes era ditado pela própria sociedade, machista, e este limitava-se a seguir a "ordem natural das coisas"...

      (claro que as violações não entram nestes campeonatos, sempre foram crimes desde que me conheço)

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    2. Isabel Pires04/10/18, 10:23

      Claro que era "ouve-se" que queria dizer ;)

      (E não sei a razão de hoje estar como anónimo ou coisa parecida.)

      Isabel Pires

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  2. Ui, há tanta coisa para dizer (e para calar, o que não significa apenas cobardia ou comodismo) e claro que um slogan não esgota um tema, mas ser simplista ou redutor não vai ajudar a que se faça algum caminho.
    Mas ajuda um pouco, se soubermos colocar-nos no lugar do "outro" e se vigiarmos mais os nossos próprios comportamentos.

    Abraço Luis

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    1. Sei que sim, Maria.

      E sim, ajuda, em tudo na vida, colocarmos-nos no lugar do outro.

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  3. Assunto complicado este. Sabemos que noutros tempos as coisas eram diferentes. Muito diferentes diria eu. Na matéria de assédio passou-se do 8 ao 80, e chegámos até em alguns casos que roçam o ridículo. E isso é tanto mais grave quanto esses casos, podem servir para esconder os casos verdadeiramente graves. Uma violação é quanto a mim algo muito mais grave, Especialmente quando a pessoa violada se apresenta inconsciente. E o juiz que despenaliza semelhante ato, não merece o cargo que ocupa.
    Abraço

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    1. É tudo tão estranho, Elvira.

      Confunde-se tudo. Como disse anteriormente, a violação sempre foi crime.

      Os homens não podem ser os únicos culpados pelas "dúvidas" de algumas mulheres...

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  4. "Eu ainda pertenço a uma geração em que por vezes a mulher dizia, não, ou não sei se, quando lhe apetecia dizer, sim (porque só as "galdérias" é que não se faziam difíceis...)."
    "É por isso que eu continuo a pensar - provavelmente mal -, ao contrário do que ouço por aí, que «não, não é sempre não»."
    Exactamente o que eu penso como produto da minha experiência. Sempre tive receio de o dizer em voz alta porque sabia que iria ser agredido apesar de ser verdade.
    Você é a primeira pessoa, que eu saiba, que tem a lata e a coragem para o dizer (e escrever) em voz alta. É precisa que haja mais gente com esta coragem.
    António Manuel

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    1. António, estou aqui e não sofri nenhuma agressão (nem comentários não publicáveis...).

      É aquilo que sinto, como homem. E é o que sentimos muitos homens (grande confusão que vai por aí, qualquer dia até nos proíbem de olhar para as mulheres que gostam de mostrar partes do corpo apetecíveis nas ruas...)

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  5. Vai por aqui aqui um diálogo interessante...e é sempre bom existir contraditório numa discussão. Mas parece-me que os senhores homens estão a fazer uma confusão (e não há nada bom que isso aconteça). Um "não" determinante, que exprime uma vontade inequívoca é bem fácil de perceber. Ou não...há homens que ou não conseguem ou não querem percebê-lo. Fiz-me entender?

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    1. Sim, Maria, tens razão. Um não determinante é um NÃO.

      Mas penso que quem mais mistura as coisas são as mulheres que acordam trinta e quarenta anos depois.

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